Uma das principais fake news que marcam a campanha eleitoral deste ano é a de que Lula (PT), se eleito presidente, vai perseguir cristãos e fechar igrejas. A mentira é amplamente divulgada por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), motivados pelo uso político que o presidente faz da religião.
O próprio Bolsonaro, inclusive, chegou a sugerir que Lula vai fechar igrejas. "É preciso estar atento. A partir de hoje, mais do que nunca, os que amam o vermelho passarão a usar verde e a amarelo, os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos, os que apoiam e louvam ditaduras socialistas se dirão defensores da democracia", escreveu o mandatário em agosto, logo no início oficial da campanha.
Apesar deste tipo de narrativa falaciosa, são os próprios bolsonaristas que vêm perseguindo padres católicos, acabando com missas e fazendo arruaças em igrejas, a exemplo do que aconteceu durante as celebrações do dia de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro.
Confira os últimos casos de intimidação de bolsonaristas contra padres e igrejas
- Achaque em Aparecida (SP)
Durante a passagem de Jair Bolsonaro por Aparecida (SP), no âmbito das celebrações do dia de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro, bolsonaristas promoveram arruaça, consumiram álcool em frente à basílica e atacaram jornalistas.
Incendiados por um discurso do presidente contra a comunidade LGBTQIA+, os "cristãos" apoiadores do mandatário de extrema direita ainda vaiaram o Arcebispo Dom Orlando Brandes por uma fala contra a fome durante uma missa e invadiram a sacristia da basílica antiga da cidade para promover achaques ao padre Camilo Júnior.
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- Padre intimidado no Paraná
No mesmo dia do achaque de bolsonaristas em Aparecida (SP), em 12 de outubro, um padre da Paróquia Nossa Senhora da Luz, em Fazenda Rio Grande, no Paraná, foi hostilizada por uma apoiadora de Jair Bolsonaro.
O padre Edson dizia, durante uma missa, que "o Deus da vida nunca vai pactuar com as forças da violência, nunca vai estar do lado daquele que prega o armamentismo, porque Deus é amor, solidariedade", quando a mulher o interrompeu, aos gritos, questionando: "O Deus da vida é a favor do aborto, padre? Ele é a favor da ideologia de gênero? O senhor está pedindo voto para o Lula?". O religioso negou todas as acusações da mulher e tentou seguir com a cerimônia, mas pouco tempo depois foi interrompido por outro homem.
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- Ex-candidata do PL chama padre de "padreco do Satanás"
Candidata derrotada a deputada federal nas eleições deste ano, a jornalista bolsonarista Flávia Azevedo, que concorreu pelo PL de Umuarama (PR), divulgou um vídeo em que faz fortes ataques ao padre Luiz Cézar Bento por conta de um áudio atribuído ao religioso em que faz críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
“Você pirou, padre? Você é um padreco do inferno! Porque você, padreco, não fala que o PT é a favor de aborto? Porque você não fala, padreco do satanás, que o PT é a favor de ideologia de gênero nas escolas? (…) Você não representa os cristãos, padreco do inferno!”, dispara Flávia aos gritos, sugerindo ainda que o religioso é a favor do aborto e da legalização das drogas.
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- Padre intimidado em Jacareí (SP) por citar Marielle
No dia 15 de outubro, na igreja São João Batista, em Jacareí (SP), uma mulher interrompeu uma missa e afrontou o padre Ewerton, titular da paróquia, com discurso bolsonarista e fake news, após o religioso evocar a memória do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, assassinados na Amazônia este ano, e da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em 2018.
"O senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. O senhor não vai falar de Marielle Franco, uma homossexual, uma envolvida com o tráfico de drogas, o senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. Uma esquerdista do PSOL, uma homossexual, que quer a ideologia de gênero dentro da escola das crianças", disparou a mulher, reproduzindo mentiras que já circulavam à época da morte da vereadora.
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- Padre Zezinho deixa as redes após ataques bolsonaristas
O Padre Zezinho, da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, publicou um texto no Facebook, no dia 14 de outubro, para desabafar e denunciar ataques de apoiadores de Jair Bolsonaro contra ele, o Papa Francisco e à Igreja Católica, ocorridos durante a celebração de Nossa Senhora Aparecida.
O religioso de Minas Gerais afirmou estar cansado de dar espaço a fiéis “superpolitizados, irados e insatisfeitos”. Por isso, anunciou que vai abandonar as redes sociais até 31 de outubro, um dia após a realização do segundo turno entre Lula (PT) e o atual presidente.
- Bolsonarista perturba final de missa
Uma bolsonarista, ao final de uma missa em Campo do Tenente (PR), no domingo (16), acusou aos gritos o padre da paróquia de ser petista. Indignada, a mulher, com uma camiseta em homenagem a Jair Bolsonaro, não ouvia os pedidos de "calma" de outros fiéis.
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- Arcebispo de São Paulo atacado por batina vermelha, cor usada por cardeais
O cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, Dom Odilo Scherer, passou a ser alvo de hostilização de bolsonaristas nas redes sociais após fazer uma postagem, no último domingo (16), criticando brigas políticas. "A fé em Deus permanece depois das eleições; assim, os valores morais, a justiça, a fraternidade, a amizade, a família… vale a pena colocar tudo isso em risco no caldo da briga política?", havia publicado.
A simples mensagem foi suficiente para que bolsonaristas fanáticos passassem a atacar o religioso e, inclusive, acusá-lo de ser "comunista" pelo fato de usar batina da cor vermelha.
O arcebispo teve que vir à público, mais uma vez, para esclarecer que o vermelho é a cor utilizada por cardeais da igreja católica pois representa "o amor à Igreja e prontidão ao martírio".
"Tempos estranhos esses nossos! Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!", disse ainda o cardeal após os ataques dos bolsonaristas.