Além de ossos e carcaças de animais, famílias famintas agora buscam também por frango estragado para se alimentar em meio à miséria que assola o país governado por Jair Bolsonaro (PL). Nesta quarta-feira (12), parte da população de Humaitá, cidade 590 km de Manaus (AM), entraram no lixão municipal para desenterrar frango impróprio para consumo que foi apreendido e descartado pela prefeitura.
A apreensão ocorreu na noite de segunda-feira (10). Segundo a Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf), fiscais flagraram um caminhão transportando 5 toneladas de frango sem refrigeração e sem nota fiscal, e o material apresentava "grave risco à saúde".
Nislene Molina, coordenadora da Unidade Local de Sanidade Animal e Vegetal (Ulsav) de Humaitá, informou que carga havia saído de Rondônia e tinha como destino o município de Canutama, no Amazonas.
"Os fiscais da Barreira de Vigilância Agropecuária abordaram o caminhão-baú e constataram que o veículo transportava 5.080 quilos de frango sem refrigeração e sem nota fiscal. O material foi apreendido para posterior destruição, visto que o produto estava impróprio para consumo”, disse Nislene.
A prefeitura de Humaitá, então, enterrou as 5 toneladas de frango no lixão municipal. Parte da população, ao saber da notícia, foi até o local em busca do alimento com pás para cavar e sacolas. Não havia nenhum fiscal da administração municipal no lixão para orientar as pessoas sobre o risco de consumir o frango.
Assista a vídeo que mostram famílias buscando por frango estragado no lixão
Fome cresce no país
A fome no Brasil já atinge 26% da população. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (24) pela “Folha de S. Paulo”, 37% daqueles que tem renda mensal de até dois salários mínimos afirmam que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar suas famílias nos últimos meses.
Entre as pessoas que estão desempregadas, mas à procura de emprego, 45% dizem passar fome. Já entre os que desistiram de encontrar uma ocupação, o percentual é de 34%.
O patamar mais elevado de pessoas afetadas pela falta de comida é encontrado no Nordeste (35%). Nas demais regiões do país, varia de 21% a 25%.
O levantamento também mostra que 15% dos brasileiros deixaram de fazer alguma refeição nos últimos meses por não ter comida em casa. O número sobe para 23% entre as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos. Nas demais faixas, varia de 3% a 6%.
Além disso, 17% e 15% são pardos e pretos, respectivamente, enquanto 11% são brancos. A percepção de que a população não tem o que comer também aumentou. 89% dos entrevistados afirmam que, no período de pandemia, cresceu o número de pessoas que passam fome no Brasil.