O quilombola Luciano Simplício, jovem negro de 23 anos, vive em situação de rua, com uma vida cercada pelo racismo e pela miséria. Seu nome ganhou repercussão nacional após ser agredido pelo comerciante bolsonarista em Portalegre, Alberan Freitas, dono de um mercadinho, que o amarrou, espancou e o arrastou pela rua.
“Ele ficou dando (golpes de corda) em mim. Me arrastou pela corda. Passei dois dias com o olho roxo. Foram chutes, socos, pisões nas costas”, relembra Luciano, acrescentando que Alberan foi ajudado pelo servidor público André Barbosa.
A agressão sofrida nas mãos do bolsonarista foi apenas uma entre tantas que o quilombola já recebeu em sua dura vida. Negro, órfão, viciado em álcool e dependente de ajuda dos familiares e dos quilombos para conseguir sobreviver.
Luciano é o mais novo de cinco irmãos, sendo três mulheres e dois homens. A mãe, Maria José Belmiro, tinha a saúde mental abalada e tendências suicidas, enquanto o pai, Francisco Simplício, morreu em 2007 tentando ser atendido em uma clínica pública. A mãe também faleceu poucos anos depois em uma cidade distante dos filhos.
Por um tempo, o quilombola agredido viveu com os tios em Tocantins, mas retornou para Portalegre.
Sua irmã, Conceição Belmiro, enviava dinheiro para Luciano e teria conseguido comprar uma moto e um celular para ele, que vendeu os bens para comprar bebida.
Depois das entrevistas concedidas para a imprensa por conta do episódio de violência que sofreu, Luciano pediu para ser internado em uma clínica de dependentes de álcool e drogas.
Ele afirma que sairá de Portalegre assim que tiver alta:
“Vou para a casa da minha tia no Tocantins”, planeja o quilombola.
A repercussão do caso entre os quatro quilombos de Portalegre
Rosa Belmiro, prima da família e uma das lideranças do Pêga, um dos quatro quilombos de Portalegre, chorou quando falou do caso para a imprensa:
“Soltava peão, caçava passarinho com baladeira, jogava bola, como todas as crianças do quilombo. A gente gosta muito dele”, conta emocionada. “Eu vi só uma vez e não quis ver mais. Fiquei muito transtornada. A gente conhece o rapaz, conhece o Alberan também. É muito forte. Todo mundo gosta do Luciano aqui. E todo mundo ficou chocado. Ninguém esperava, ele é da família, do nosso sangue. Só a justiça de Deus mesmo. E tem muita gente abaixo de Deus torcendo por ele”.
Outro quilombo, liderado por Dona Daza, é o do Sobrado. Na liderança, auxiliam dona Daza seu marido Genildo e os filhos, além do subcoordenador de Povos e Comunidades Tradicionais do Governo do Rio Grande do Norte, Aercio de Lima.
Dona Daza, diz que o racismo era naturalizado nos próprios quilombos, por falta de informação:
“A gente tinha em mente que o negro era sempre para sofrer perseguição. Imaginávamos que, se era branco, tínhamos que abrir espaço para passar, por exemplo. Os negros não podiam entrar nas festas enquanto os brancos estivessem lá. Os portões para nós só abriam depois das 2h da madrugada, a “hora dos miseráveis”. Era quando os brancos já tinham ido embora depois de curtir o sanfoneiro. Só ficavam os brancos passivos, que não queriam briga”, comenta.
Atualmente, além do Sobrado e do Pêga há ainda no município, certificados, os quilombos de Lajes e Arrojado.