O jornalista Nando Gross, que até julho de 2020 foi diretor da Rádio Guaíba AM e FM, emissora gaúcha que pertence ao Grupo Record, revelou nesta quinta-feira (16), durante uma entrevista ao podcast Porto Alegre 24 Horas, que deixou a empresa por não concordas com práticas que considera inaceitáveis, como a censura e a difusão de fake news.
Gross afirmou que a orientação dada sobre a linha editorial da rádio era simples. A direção apenas dizia, segundo ele, que “é fácil saber o que pode e o que não pode. Vocês vejam o que o R7 tá dizendo, o que o Jornal da Record está dizendo, e é essa a nossa linha”.
O jornalista demissionário explicou que resolveu deixar a tradicional emissora gaúcha porque considerava que aquilo que era desejado como jornalismo por lá, poderia afetar o seu carácter e seus princípios.
“Aí chegou na prática. Começa com ‘isso pode’, ‘isso não pode’, matérias que você tem que fazer pra prejudicar fulano. Pô, mas aí chega uma hora que você pensa assim: se eu entrar nisso, eu sou um cara sujo, aí eu sou um cara desonesto, e aí em preferi não fazer”, falou.
O episódio da entrevista com o ex-presidente Lula, de acordo com ele cancelada pela alta direção do grupo, teria criado um embaraço muito grande a Gross, já que o radialista estava com o líder petista na tela do estúdio para iniciar a conversa com um apresentador, quando recebeu a ordem para não colocá-lo no ar.
“Tive o constrangimento de cancelar uma entrevista com o Lula dez minutos antes, por exemplo. No caso do Lula, essa foi uma decisão que veio de cima. É estranho porque eu trabalho com isso há anos, trabalhei na RBS, naquela época que a coisa era de um antipetismo doentio, enfim... Eles nos procuraram, o Lula tinha acabado de sair da cadeia... A produção agilizou tudo e tal, o Lula já tava no Zoom, aquele aplicativo, para dar a entrevista, e eu já estava vendo ele ali, já tinha perguntando ‘como vai, presidente?’, aí veio um telefonema do presidente e outro do diretor, um pro Juremir (radialista) e outro pra produtora, e eu tive que falar ali, enfim... Uma coisa constrangedora”, contou.
O comunicador fez críticas ainda ao fato de a Rádio Guaíba direcionar suas pautas para a agenda bolsonarista, divulgando casos de pessoas que se negavam a vacinar os filhos e e enaltecendo as famigeradas escolas militares propagandeadas por seguidores do presidente da República como solução para os problemas educacionais do Brasil.