O comerciante Alberan Freitas, que amarrou e espancou o jovem quilombola Luciano Simplício na cidade de Portalegre (RN), no último sábado (11), segue solto. A Polícia Civil, no entanto, avançou nas investigação, que antes apurava apenas "lesão corporal", e passou a trabalhar também com crime de tortura.
"As imagens que circulam nas redes sociais são chocantes, considerando que a pessoa que fez a detenção do suspeito utilizou de força bruta. Ele chegou a deter o suposto autor do crime e, a partir dali, cometeu agressão contra o mesmo. O crime cometido será rigorosamente apurado pela Polícia Civil. A princípio, se veem ali elementos de tortura", afirmou a delegada Ana Cláudia Saraiva, que acompanha o caso, em entrevista coletiva nesta terça-feira (14).
“A Polícia Civil irá investigar com todo o rigor se, naquela circunstância, naquela situação, materializou o crime de tortura em concurso material racismo e preconceito. Estamos acompanhando as investigações e iremos adotar todas as providências de acordo com as penas previstas em lei e encaminhar o fato ao Judiciário o mais rápido possível”, disse ainda Ana Cláudia.
O caso chocou o país a partir de vídeo que veio à tona nesta segunda-feira (13). Nas imagens, Alberan, que é bolsonarista, aparece pisando em Luciano, que estava amarrado e implorando por ajuda.
Segundo informações obtidas pela Fórum, Luciano é quilombola e está em situação de rua desde que perdeu os pais. O jovem teria jogado pedras no mercado de Alberan em reação a ataques verbais feitos pelo bolsonarista, o que teria levado o comerciante a amarrar o quilombola e arrastá-lo pelo chão.
Parlamentares e movimentos acompanham o caso
Também nesta terça-feira (14), parlamentares do Rio Grande do Norte, como a deputada federal Natália Bonavides e a a vereadora Brisa Bracchi, ambas do PT, se reuniram com representantes da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), da Secretaria de Estado das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e movimento negro para discutir o caso do quilombola torturado.
À Fórum, Aércio de Lima, da coordenação nacional da Conaq, informou que, na reunião, foi encaminhada a criação de um grupo de trabalho de combate ao racismo que, a princípio, vai acompanhar, com advogados, o caso de Luciano Simplício e que, posteriormente, vai seguir atuando em prol do combate ao racismo.
"A gente espera que seja feita a justiça", disse Aércio.