De acordo com os dados divulgados nesta terça-feira (31) pelo Atlas da Violência, elaborado pelo Fórum de Segurança Pública, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), 77,1% das pessoas assassinadas no Brasil no período de 10 anos entre 2009 e 2019 eram negras.
Ainda que os negros representem 54% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de vítimas de homicídio entre cidadãos e cidadãs dessa etnia é bem superior à média deles na composição total dos habitantes do país.
O cruzamento dos indicadores mostra que negros tem 2,6 mais chances de serem assassinados no país do que pessoas não negras. Enquanto entre os negros a números de homicídios cresceu 1,6% no período, no caso dos não negros ele caiu 33% entre 2009 e 2019.
“A desigualdade racial se perpetua nos indicadores sociais da violência ao longo do tempo e parece não dar sinais de melhora, mesmo quando os números mais gerais apresentam queda. Os números deste Atlas, mais uma vez, comprovam essa realidade”, destaca um trecho do texto que acompanha o estudo do FBS.
“Mais do que persistir, o fato é que o Atlas mostra que essa desigualdade racial se acentua ao longo da última década. Então, além de a gente ter, historicamente, negros mortos em função de homicídios, e essa taxa de mortalidade ser muito maior do que entre não negros, o fato é que a gente tem dois Brasil: o Brasil em que brancos, amarelos vivem e a taxa de homicídios é de 11 por grupo de 100 mil habitantes, e o Brasil em que negros habitam e a taxa é de 29 por 100 mil habitantes. Então, é essa distância brutal e isso vem se acentuando nos últimos anos", contextualizou Samira Bueno, que é diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e coordenadora do Atlas da Violência.