O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) relatou em seu depoimento à Polícia Federal que o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, teria dito a ele, sobre ilegalidades em sua pasta, que “sacanagem tem desde que eu entrei”. A informação é do diário conservador carioca O Globo, que teve acesso a uma cópia da oitiva do parlamentar que, junto com seu irmão, denunciou um esquema criminoso de compra superfaturada da vacina indiana Covaxin.
“Eu disse: ‘Pazuello, tá tendo sacanagem no teu ministério. Tem que agir, mermão’. Aí ele falou: ‘Sacanagem tem desde que eu entrei’. Com aquele jeitão carioca dele. ‘Inclusive, ontem, eu (Miranda) fui no presidente e entreguei um negócio pra ele. É um absurdo. Se estiver acontecendo de verdade, é um absurdo você (Pazuello) precisa cuidar disso’", diz o deputado nas imagens obtidas pelo O Globo.
O depoimento de Miranda foi colhido no âmbito do inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal para apurar se o presidente Jair Bolsonaro teria prevaricado ao receber a informação do deputado do DEM sobre um suposto esquema de corrupção na Saúde, e que, ao que tudo indica, não teria tomado providências para cessar o crime.
No relato que Miranda deu aos policiais que investigam os envolvidos na fraude consta ainda uma afirmação de que Pazuello teria sido pressionado pelo atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para que liberasse mais verbas da área da Saúde para emendas parlamentares de seus aliados.
“O Pazuello olha pra mim e diz assim: ‘Deputado, posso falar a verdade? Eu passei seis horas andando de helicóptero com ele (Bolsonaro) e consegui dez minutos de atenção dele. Eu não consigo. Eu tenho coisas pra resolver com ele e, porra, no final do ano eu levei uma pressão tão grande que eu não sei exatamente como resolver. Uma pressão... um cara’”, prosseguiu Miranda à PF.
Questionado sobre quem seria “um cara”, o denunciante relata o resto da conversa que teria tido com o general.
“(E eu perguntei) ‘Que cara? E ele disse ‘O Arthur Lira, porra. O Arthur Lira colocou o dedo na minha cara e disse: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’, porque eu não quis liberar a grana pra listinha que ele me deu dos municípios que ele queria que recebesse. Ele bota o dedo na minha cara’”, completou.
O general que comandou a Saúde do governo Bolsonaro no momento mais caótico da pandemia, em seu depoimento aos agentes federais, já havia dito que realmente conversou com Luis Miranda no dia 21 de março deste ano, mas alegou que não lembrava do teor do diálogo.