Enquanto o Brasil ainda tenta digerir as palavras insanas ditas por Jair Bolsonaro na sexta-feira (27), quando chamou de idiota quem quer feijão para se alimentar, argumentando que os brasileiros deveriam comprar, antes de tudo, um fuzil 7.62, uma pergunta pairou no ar: quanto custa a arma de guerra que desperta uma tara quase patológica no presidente da República?
Aliás, esta não é a única dúvida que ficou sem resposta. Os brasileiros poderiam comprar o tal fuzil que o mais radical e extremista dos chefes de Estado do planeta indicou como solução para todos os nossos problemas? O que seria possível comprar com o mesmo valor da arma? A Fórum foi pesquisar e trouxe alguns comparativos para que o leitor compreenda se realmente valeria a pena deixar de comer, de pagar as contas, de reformar a casa, de se locomover e de dar estudo de boa qualidade aos filhos só para ter no conforto do lar um monstrengo inútil e sair brincando por aí de Rambo.
Preço do fuzil 7.62
Pela internet foi possível encontrar três lojas de armas regulares que vendem o tal fuzil pelo qual Bolsonaro é obcecado. Em uma delas o preço não aparece. Já nas outras duas, o valor fica entre R$ 14.417 e R$ 12.402, sem levarmos em consideração os gastos nada modestos da burocracia que são obrigatórios ao se adquirir uma arma de fogo legalmente no Brasil. Partindo dos dois preços, chegamos ao valor médio de R$ 13.409, que será usado como parâmetros nas comparações. O fabricante do fuzil é o mesmo nos três estabelecimentos: a estatal brasileira Imbel.
Alimentação
Se o preço de um fuzil 7.62 fosse convertido em cestas básicas na cidade de São Paulo, por exemplo, seria possível comprar 21 unidades para alimentar a família. Quase duas por mês durante um período de um ano. Se o brasileiro preferir usar o valor para comprar feijão, contrariando a opinião obtusa e desarrazoado do presidente, seria possível levar 1.489 quilos do produto para casa, o que provavelmente nutriria uma família por muito tempo.
Se a conversão for feita por arroz, os R$ 13.409 do fuzil poderiam virar 670 sacos de 5 quilos do cereal, ou seja, 3,35 toneladas de arroz. A fome seria espantada por gerações.
Salários e benefícios sociais
O preço da arma, completamente fora da realidade do brasileiro, corresponde a 12,2 salários mínimos. Para muita gente, um ano de trabalho suado, integralmente. Se fosse possível usar o valor para distribuir renda por meio do programa Bolso Família, 71 pessoas seriam beneficiadas.
Reforma ou construção da casa própria
Os R$ 13.409 que, na opinião de Jair Bolsonaro, devem ser gastos pelos chefes de família sem emprego e sem comida para a aquisição de um objeto que serve para matar pessoas, caso fossem empregados na reforma ou construção da casa própria, renderiam 462 sacos de cimento, ou 12.190 tijolos. Aqueles que sonham com um lar para viver poderiam ainda comprar 191 metros cúbicos de areia, ou 169 metros cúbicos de brita, aquelas pedrinhas usadas para fazer concreto.
Gasolina e transporte
Se em vez de comprar um fuzil, e sair bancando o capitão Nascimento pela vizinhança, o brasileiro preferir converter esse valor na caríssima gasolina da Era Bolsonaro, vai dar bastante coisa. Partindo de postos da capital paulista que cobram R$ 6,19 no litro do combustível, quem resolver abastecer conseguirá colocar 2.116 litros de gasolina aditivada no tanque. Quer dizer, no tanque não, porque não vai caber. Um carro popular rodaria 29.624 km com esse volume. Dá pra completar 75% da linha do equador, que circunda a Terra, com essa quilometragem.
Educação
Quem cogitar usar o valor do fuzil para pagar uma escola privada a um filho, por exemplo, também acabará pensando duas vezes antes de seguir o conselho presidencial. Um bom colégio de ensino médio no Estado de São Paulo, por exemplo, custa R$ 918 mensalmente. Com os R$ 13.409 do 7.62 que desperta os instintos mais selvagens de Bolsonaro seria possível pagar 14 mensalidades e meia, ou seja, mais de um ano.