A cidade de São Paulo deu esta semana mais um importante passo nas medidas de reparação histórica. Na quarta-feira (25), a Câmara dos Vereadores da capital paulista aprovou em definitivo o Projeto de Lei (PL) 243/2013, que altera o nome da Rua Doutor Sérgio Fleury, na Zona Oeste, para Rua Frei Tito.
Trata-se da inversão da homenagem a um torturador para a homenagem a um torturado.
Fleury chefiava esquadrões da morte que assassinavam pessoas nas periferias de São Paulo e atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) a partir de 1968, sendo considerado um dos mais sanguinários torturadores da ditadura militar.
Tito, por sua vez, era frei dominicano e, por sua atuação contra a ditadura, foi perseguido pelo regime, preso e torturado. Fleury é considerado um dos principais torturadores do religioso, que se exilou na França e, no país europeu, cometeu suicídio em 1974 em consequência dos traumas psicológicos causados pelas sessões de tortura.
"Vivemos tempos difíceis e sombrios, há um movimento de negação da existência da ditadura militar em nosso país e Frei Tito é prova de que o regime ditatorial não só existiu como a tortura cometida naquele período o levou ao suicídio. É uma reparação histórica que seu nome substitua o do delegado Fleury, um dos seus principais torturadores", afirmou o vereador Arselino Tatto (PT-SP), um dos autores do projeto de lei aprovado.
"O delegado Sérgio Paranhos Fleury causou traumas psicológicos irreparáveis que levaram Frei Tito ao suicídio, por isso, é simbólico que seu nome ocupe o lugar de Fleury, é mais do que uma homenagem, é fazer justiça ao banir o nome de um torturador e colocar em seu lugar o nome de quem defendeu com a própria vida a nossa democracia, não podemos mais admitir essas homenagens equivocadas", completou o petista.
Um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil, corrente da igreja católica atrelada a pautas sociais, Tito começou a militância no movimento estudantil e apoiava grupos de ação direta contra a ditadura, como a Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella.
Sua trajetória é narrada no famoso filme "Batismo de Sangue" (2007), do diretor Helvécio Ratton, baseado no livro homônimo de Frei Betto.
O PL que altera o nome da rua que homenageava o torturador agora segue para sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB).