É só começar a fazer um frio encasacante na capital paulista que ela reaparece nas bocas dos cidadãos da metrópole de mais de 12 milhões de habitantes: a lenda da neve de 1918.
Junto com ela vêm os mais variados tipos de comentários e considerações, dos científicos aos desarrazoados, dos apaixonados aos mais céticos. Afinal, nevou ou não nevou em São Paulo no ano de 1918?
Muita gente vai ficar frustrado com a resposta, mas ela é não!
Em que pese todos os relatos históricos, literários, artísticos e familiares (grande parte dos paulistanos de hoje já ouviu o papo da neve de algum antepassado, que foi passando sucessivamente para as gerações seguintes), o tal cenário de uma avenida paulista, bem diferente da atual, claro, com o chão branquinho, coberto de gelo, não era exatamente uma ocorrência de neve.
Meteorologistas e especialistas em clima, dos mais variados institutos e órgãos, garantem que aquilo que ocorreu na noite de 25 de junho de 1918 na cidade de São Paulo é um outro fenômeno, chamado de sublimação de nevoeiro. É uma condensação do nevoeiro que normalmente ocorre após uma baixíssima temperatura que provocou uma geada. Portanto, não é neve.
O meteorologista Mario Festa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) explicou numa entrevista à agência estatal britânica de notícias BBC que aquela ocorrência deve ser explicada de uma outra maneira.
"Não teve neve. A confusão que se faz é porque o cristal da neve é igual ao cristal da geada... Para haver geada, é necessário que o céu esteja totalmente limpo, para que o calor armazenado se dissipe. Esse resfriamento muito rápido faz com que a umidade próxima à superfície, em certas condições, se congele. Ou, no caso do orvalho, simplesmente forme gotas líquidas", argumenta.
O modernista Oswald de Andrade foi uma das figuras célebres que ajudou a propagar a lenda urbana. Não o fez de maneira intencional, até porque não tinha conhecimentos técnicos, muito menos àquela época, para diferenciar as ocorrências climáticas. Mas o fato é que o escritor eternizou esse fenômeno num diário que registrava sua tórrida vida amorosa na casa que mantinha na Rua Líbero Badaró, n° 67.