Apenas 3 em cada 10 brasileiros cumprem isolamento social rígido; maioria dos que "vivem normalmente" é bolsonarista

Segundo o Datafolha, as medidas restritivas que Bolsonaro tanto ataca já não vêm sendo tão respeitadas, justamente em um dos momentos mais graves e letais da crise sanitária

Bolsonarista em ato de apoio ao presidente e contra as medidas restritivas (Foto: Eduardo Matysiak/Futura Press)
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Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (17) mostra que o índice de isolamento social no Brasil é o mais baixo desde o início da pandemia do coronavírus. Apenas 30% (ou três em cada 10) dos brasileiros adultos, atualmente, estão totalmente isolados ou só saem de casa quando é extremamente necessário.

Para se ter uma ideia, esse índice já chegou a ser de 72% em abril de 2020 e, em março desde ano, era de 49%. O baixo índice de isolamento vem justamente em um dos momentos mais agudos da pandemia e menos de um mês após o país passar pelo seu período mais letal da crise sanitária, que foi abril, quando mais de 82 mil pessoas perderam a vida para a doença do coronavírus.

As medidas de restrição e o isolamento social são unânimes entre especialistas como a melhor maneira de conter a disseminação do vírus. Os países que encamparam quarentenas rígidas observaram números menores de mortes e doentes e alguns, mesmo com a vacinação avançando, seguem tomando essas medidas por precaução.

No Brasil, entretanto, o presidente Jair Bolsonaro não só desrespeita os protocolos de isolamento como incentiva a população a o fazer também, usando o ato, inclusive, para atacar governadores e prefeitos que defendem a medida. Essa postura do titular do Palácio do Planalto é um dos pontos em discussão na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as ações e omissões do governo no combate à pandemia, a CPI do Genocídio.

A própria pesquisa Datafolha mostra essa relação entre o discurso de Bolsonaro contra o isolamento e o comportamento de seus apoiadores. Segundo o estudo, 7% da população diz estar "vivendo normalmente", ou seja, sem adotar qualquer precaução contra o contágio do coronavírus. Deste total que não adota medidas restritivas e nem o isolamento, a maioria, 14%, é composta por aqueles que "sempre confiam nas falas de Bolsonaro".

Bolsonaro chama quem cumpre isolamento de "idiota"; presidente da CPI reage

Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as ações e omissões do governo no combate à pandemia, a CPI do Genocídio, reagiu nesta segunda-feira (17) às declarações de Jair Bolsonaro atacando, mais uma vez, as medidas restritivas para conter a disseminação do coronavírus.

Pela manhã, Bolsonaro chamou aqueles que respeitam o isolamento social de “idiotas”. “Tem uns idiotas ai… o fica em casa. Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse idiota teria morrido de fome. Ai ficam reclamando de tudo”, disse o presidente a um grupo de apoiadores.

À coluna de Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo, Omar Aziz se mostrou irritado com a declaração de Bolsonaro e culpou o governo pela longa duração das medidas restritivas. “Muitos países já estão voltando à normalidade. Se o governo tivesse comprado as vacinas, nós não estaríamos mais usando máscara”, pontuou.

Em sua fala, Aziz fez uma referência indireta aos Estados Unidos que, com a vacinação já em estágio avançado, tem flexibilizado medidas e permitindo que aqueles que tomaram as duas doses da vacina contra a Covid-19 possam abandonar o uso da máscara em alguns ambientes.