O presidente da Ordem Brasileira dos Advogados (OAB), Felipe Santa Cruz, declarou que não vê clima, atualmente, para um pedido de impeachment do presidente Bolsonaro prosperar. "O governo Jair Bolsonaro vive o seu melhor momento no Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados a oposição não tem 130 votos. A gente não pode dourar a pílula. Esse é um processo político e jurídico. Não tem ninguém na rua, não tem manifestação. A pandemia é o assunto mais grave", disse Cruz.
A OAB foi a responsável por elaborar os pedidos de impeachment dos ex-presidentes Fernando Collor, Dilma Rousseff e Michel Temer. Neste momento, a Ordem deu início a um processo interno para decidir em no máximo 60 dias se vai encampar ou não a bandeira de impeachment de Bolsonaro. Cruz, além de pontuar que não há clima, também afirma que no caso de Collor, Dilma e Temer houve pressão popular.
"Eu era líder estudantil no impeachment do Collor. As ruas foram tomadas. Houve uma confluência entre vontade popular, crime de responsabilidade e desvios graves. Era uma conjuntura clara de impeachment, com o aspecto jurídico atendido e mobilização popular. O mesmo se deu com a Dilma. Foi mais traumático, porque não houve a mesma unidade (de oposição) ao Collor, quando todos queriam o impeachment. Mas teve pressão popular e manifestações contra a Dilma. Esse clima força uma percepção do Congresso sobre essa agenda. No caso do Temer, havia insatisfação popular, mas ele tinha uma sólida base parlamentar que não deixou o impeachment prosperar", disse Cruz ao Estadão.
Cruz afirma que o parecer entregue à OAB, que foi elaborado por uma comissão de juristas presidida pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, e que pede o impeachment de Bolsonaro "é muito duro" e produzido por "juristas acima do bem e do mal" e que ele não poderia virar as costas. Segundo o presidente da OAB, o documento vai tramitar entre 30 e 60 dias na Ordem, pois, são 30 dias para ouvir as seccionais e depois uma sessão do Conselho. Todavia, ele ressalta que está "cético" quanto a possibilidade de afastamento de Bolsonaro prosseguir, a não que aconteça "uma mudança na dinâmica política".
Na entrevista, Felipe Santa Cruz foi instado a comentar sobre a operação Lava Jato e o seu legado. "Foi um passo importante no combate à impunidade, que foi desviado pelo personalismo desse projeto. Houve um desvio autoritário onde os fins justificam os meios", criticou.
Com informações do Estado de São Paulo