Diante da falta de sedativos, pacientes com Covid intubados no RJ são amarrados às macas: "Ficam pedindo para não morrer"

Em entrevista ao jornal RJ1, enfermeira relatou situação dramática de pacientes que vivem dor insuportável com intubação sem sedativos; SP e MG também registram falta dos insumos

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Uma enfermeira do Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), relatou ao telejornal RJ1, da Globo, nesta quarta-feira (14), uma situação dramática vivida por pacientes com Covid-19 intubados na unidade de saúde.

A intubação é o procedimento utilizado para pacientes que desenvolvem a forma mais grave da doença e, por ser um tratamento invasivo, é necessária a sedação da pessoa. No hospital em questão, no entanto, os sedativos acabaram e alguns pacientes estão intubados sem nenhuma sedação, o que gera uma dor insuportável. Para conter esses pacientes que ficam acordados e com dores durante a intubação, eles têm sido amarrados nas macas.

“Na sala vermelha, os pacientes estão intubados e amarrados, estão vivenciando tudo acordado e sem sedativo, pois não tem nenhum sedativo, acabou tudo. Só para o CTI e mesmo assim estão sendo rediluídos e mesmo assim não dá para todos os pacientes", disse a enfermeira.

"Eles ficam tudo acordado, sem sedativos, intubados, amarrados e pedindo para não morrer”, completou a profissional de saúde.

Faltam sedativos para intubação também em SP e MG

O governo de São Paulo enviou nesta terça-feira (13), um ofício ao Ministério da Saúde onde afirma precisar de medicamentos do kit intubação em 24 horas para repor estoques e evitar o desabastecimento de drogas essenciais para o tratamento dos pacientes de Covid-19 em situação grave.

“A situação de abastecimento de medicamentos, principalmente daqueles que compõem as classes terapêuticas de bloqueadores neuromusculares e sedativos está gravíssima, isto é, na iminência do colapso, considerando os dados de estoque e consumo atualizado pelos hospitais nesses últimos dias”, afirma o documento assinado pelo secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn.

Gorinchteyn diz também que há mais de 40 dias vem formalizando “reiteradamente” ao Ministério da Saúde solicitações para a adoção de “medidas expressas e urgentes” para a recomposição dos estoques em São Paulo.

Diz que enviou nove ofícios, que enumera no documento, “sem retorno”. “Tais fatos motivam nossa insistência em solicitar providências imediatas”, afirma ele.

“O Ministério da Saúde manteve o Estado de São Paulo durante 6 (seis) meses sem fornecimento de qualquer quantidade de medicamentos provenientes das requisições administrativas realizadas. E furta-se a esclarecer qual critério adotado para definir a distribuição dos milhões de unidades farmacêuticas requisitadas, face ao quantitativo ínfimo enviado ao Estado de São Paulo”, dia ainda o secretário.

A mesma situação se repete em Mina Gerais. Na última semana, o governador Romeu Zema (Novo) chegou a alertar que algumas regiões mineiras só possuíam estoques do produto para até dois dias. “Estamos correndo risco de pacientes intubados acordarem por falta de sedativos e isso não pode ocorrer de forma nenhuma”, declarou na ocasião.

Uma das causas do agravamento do problema, segundo Zema, é que o Ministério da Saúde teria requisitado toda a produção industrial desses medicamentos.

O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Jonas Donizette, afirmou que mais de 1.200 municípios do país relataram falta de insumos e medicamentos. Para ele, o problema está acontecendo também por culpa do governo federal, que teria se negado a comprar, em setembro, os itens para o chamado kit intubação. Na época, segundo Donizette, o Executivo federal alegou aumento de 10% nos preços. Porém, agora, com o agravamento da crise, o kit intubação aumentou quase 1.000% no mercado. “As dificuldades vão se multiplicando. Na virada do ano, é como se a pandemia tivesse deixado de existir para o governo. Os municípios ficaram praticamente sozinhos”, ressaltou.