Bolsonaro chama críticos do 'tratamento precoce' de "canalhas"; médicos reagem e cobram posição do CFM: "Exijo respeito"

Para profissionais de saúde, presidente atacou comunidade médica e científica ao xingar aqueles que não receitam o "tratamento precoce", que não tem eficácia comprovada contra a Covid; Conselho Federal de Medicina não se pronunciou

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Durante seu passeio pela periferia de Brasília, neste sábado (10), o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o chamado "tratamento precoce", que agora ele chama de "tratamento imediato", contra a Covid-19. A prática envolve a administração de substâncias como cloroquina e ivermectina, que não têm eficácia comprovada contra a doença do coronavírus e, em alguns casos, pode inclusive oferecer riscos aos pacientes.

Ao falar sobre o assunto, Bolsonaro chamou de "canalhas" aqueles que são críticos do uso dessas substâncias contra a Covid. “Tem muito médico que aplica o tratamento imediato, que é combatido por canalhas. Porque o canalha fala que não serve para nada, mas não aponta alternativa, deixa o médico trabalhar", disparou.

"O médico tem liberdade para receitar o que ele achar que deve ser receitado com conhecimento e com concordância do paciente. Nós sabemos que não tem nenhum remédio com comprovação científica ainda [de eficácia contra a covid-19]. Nenhum, mas tem alguns que a experiência, a observação por parte de médicos, tem demonstrado que é válido. Então deixe o médico em paz, deixe de agir como canalha", completou o titular do Planalto.

Assista.

https://twitter.com/jairmearrependi/status/1380900488787468291

Alguns profissionais de saúde críticos do "tratamento precoce", após a fala do presidente, se manifestaram nas redes sociais por sentirem-se atacados com a declaração. Eles passaram a cobrar um posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

"O Conselho Federal de Medicina vai defender os médicos que foram chamados de 'canalha' e 'vagabundos' pelo presidente da república?", questionou o médico reumatologista João Alho.

https://twitter.com/reumalho/status/1380904941125009412

Ele foi endossado por Luciano Cesar Azevedo, médico intensivista e professor de Emergências Clínicas na Universidade de São Paulo (USP). "Aqui temos uma pergunta importante, CFM. Eu tenho autonomia de não prescrever tratamento precoce para COVID-19, já que a autonomia vale para ambos os lados. Teremos nota criticando o comentário do excelentíssimo presidente ou o CFM compartilha da opinião dele?", questionou.

O cardiologista Bruno Grossi também fez a cobrança: "Eu como medico 'canalha' exijo o mínimo de respeito do Conselho Federal de Medicina e aguardo posicionamento do mesmo em relação a declaração do Sr. Bolsonaro que a meu ver não a miníma postura de chefe de estado!!".

https://twitter.com/brunojgrossi/status/1381021260822511616

Fórum entrou em contato com o Conselho Federal de Medicina via telefone para obter um posicionamento da entidade sobre a declaração de Bolsonaro e a cobrança dos médicos, mas ninguém atendeu. A reportagem enviou um e-mail com a solicitação e aguarda retorno.

Postura do CFM é vergonhosa e criminosa, diz ex-ministro da Saúde

O ex-ministro da Saúde no governo Lula, o médico sanitarista José Gomes Temporão, fez duras críticas ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que defende posições semelhantes às de Jair Bolsonaro em relação à condução do combate à pandemia do coronavírus.

Em entrevista à Cynara Menezes, no Jornal da Fórum, na última quarta-feira (7), ele declarou que a atuação do CFM “é vergonhosa e criminosa. Ali é uma posição político-ideológica que não é guiada nem pela boa medicina nem pela ciência”, disse.

O CFM levou nove meses para se pronunciar a respeito dos falsos tratamentos para Covid-19 estimulados pelo governo Bolsonaro.

Além disso, Mauro Ribeiro, presidente da entidade, já deixou claro, inclusive em artigos, que o conselho não irá agir para acabar com a tese mentirosa do tratamento precoce e não vai interceder contra o uso de medicamentos não eficazes contra a Covid, como hidroxicloroquina, ivermectina e cloroquina, entre outros.

A orientação do CFM aos conselhos regionais é não romper o alinhamento ideológico das chefias desses órgãos com Bolsonaro.