Colapso: prefeito de São Sebastião anuncia que vai extubar pacientes com Covid a partir de segunda por falta de sedativos

Cidade do litoral paulista está com 100% dos leitos de UTI ocupados e sofre com desabastecimento de insumos; governo Bolsonaro foi alertado sobre falta de medicamentos do "kit intubação" em agosto do ano passado

Foto: Agência Brasil
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Em entrevista à rádio Bandeirantes na manhã deste sábado (20), o prefeito de São Sebastião (SP), Felipe Augusto (PSDB), relatou uma situação de colapso no sistema hospitalar da cidade em meio à pandemia do coronavírus e anunciou que, a partir de segunda-feira (22), as unidades de saúde vão extubar pacientes por falta de sedativos para manter a intubação.

"Nós estamos num momento caótico. Já havíamos alertando sobre o aumento de pacientes e estamos com capacidade máxima de lotação, 100% na UTI. Acabaram os estoques de sedativos para processos de intubação. A partir deste momento, entramos na fase final de estoque. Até domingo, manteremos os pacientes sedados, mas a partir de segunda-feira teremos que extubar, caso não cheguem os medicamentos", revelou.

Segundo o prefeito, "tudo leva a crer que a nova cepa [do coronavírus] já esteja na nossa região, embora ainda não haja confirmação". Ele adicionou, ainda, que dois hospitais da cidade já não estão mais intubando pacientes por falta de insumos.

Governo Bolsonaro foi alertado sobre falta de insumos

Nesta sexta-feira (19), veio à tona a notícia, através de dados das secretarias estaduais de Saúde, que estoques públicos de medicamentos para intubação estão perto do fim e podem acabar nos próximos dias. A intubação é o procedimento que tem sido utilizado para o tratamento de pacientes com quadro agravado de Covid-19.

Um relatório do Conselho Nacional de Saúde (CNS) de agosto do ano passado mostra que o governo Bolsonaro já havia sido alertado sobre o risco de desabastecimento desses itens necessários para a intubação. No mesmo documento, o CNS informou ainda que o Ministério da Saúde cancelou a compra de parte desses medicamentos.

“Considerando que o processo de compra, conduzido pelo Ministério da Saúde a partir do consolidado de demandas hospitalares dos estados, em 12 de agosto de 2020, obteve êxito parcial, tendo em vista que dos 21 itens, 13 foram cancelados, 12 no julgamento, e 1 por inexistência de proposta, sendo a situação de cancelado no julgamento motivada por preços acima das estimativas de mercado”, diz um trecho do relatório.

“Considerando que o desabastecimento desses medicamentos coloca em risco toda a estrutura planejada para o atendimento de saúde durante a pandemia do novo coronavírus, pois mesmo com leitos disponíveis, sem esses medicamentos não é possível realizar o procedimento, podendo levar todo o sistema de saúde ao colapso”, diz ainda a entidade em ofício do dia 20 de agosto.

O chamado “kit entubação” é composto de, entre outros itens, remédios para anestesia, sedação e relaxamento muscular. Pelo menos três estados e o Distrito Federal estão com os estoques em nível crítico: Paraná, Santa Catarina e Pará são os mais preocupantes.

No Pará, 12 hospitais da rede estadual só têm estoque para mais 15 dias. No Paraná, os bloqueadores neuromusculares são suficientes para apenas dois dias. Sedativos e analgésico duram somente mais uma semana.

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal chamou a atenção para o baixo estoque de antibióticos e sedativos na rede pública de saúde. Alguns remédios já estão com o estoque zerado: propofol, que é um anestésico geral de curta duração; e o vecurônio, realxante muscular, que seve para facilitar a introdução do tubo na traqueia.

A situação em Florianópolis também é grave. O hospital estadual Nereu Ramos está diluindo os medicamentos para intubação para render mais. A Secretaria de Saúde de Santa Catarina diz que há risco de desabastecimento.

De acordo com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, as reservas atuais durem apenas 20 dia. O órgão pede que o Ministério da Saúde garanta com a indústria a continuidade do fornecimento.