"Cadê o Zé Gotinha?": pediatras pedem mascote "em sua imagem original" na campanha de vacinação contra a Covid

Após o ex-presidente Lula questionar o "sumiço" do Zé Gotinha, clã Bolsonaro passou a divulgar o personagem, querido pelas crianças, em sua forma "miliciana"

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Em nota conjunta divulgada nesta segunda-feira (15), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) solicitaram ao governo federal a incorporação do Zé Gotinha na campanha de imunização contra a Covid-19.

O pedido vem na esteira do questionamento feito pelo ex-presidente Lula na última quarta-feira (10), durante coletiva de imprensa realizada em São Bernardo do Campo (SP). "Cadê o Zé Gotinha? Cadê o nosso querido Zé Gotinha? O Bolsonaro mandou embora porque pensou que ele era petista. Não era petista. Ele foi inventado por gente muito importante da saúde sanitária desse país, não teve nada com o PT. Ele era suprapartidário, ele era humanista. E cadê o Zé Gotinha? Acabou", disse o petista.

No dia seguinte, então, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, resolveu passar a divulgar o mascote, até então escondido nas campanhas do governo, mas em uma nova versão: segurando uma seringa como se fosse uma arma. O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) apelidou a versão bolsonarista do mascote de "Zé Gotinha miliciano".

"O início de 2021, no entanto, trouxe um alento ao mundo, com o anúncio do licenciamento de vacinas contra a COVID-19. Tal conquista, que resulta dos grandes avanços da ciência, trouxe a esperança de superação dessa crise sanitária sem precedentes. Entretanto, esse motivo de celebração tem sido ofuscado no Brasil por discussões e disputas políticas que desrespeitam as vítimas dessa trágica doença. Posições partidárias e ideológicas assumem o espaço que, neste momento, deveria ser ocupado pelo que realmente importa: amplas e massivas campanhas de divulgação sobre a vacinação", diz a nota da SBP e SBIm, antes de destacar a história do Zé Gotinha, criado em 1986 para incentivar crianças a tomarem vacinas.

As entidades lembram que, desde então, todas as campanhas de vacinação do país contaram com a importante presença do Zé Gotinha, que "contribuiu para resultados exitosos nas coberturas vacinais, especialmente entre o público infantil".

"Diante disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) requerem do Governo Federal que o Zé Gotinha – em sua imagem original, alegre, pacífica e motivadora – seja incorporado à campanha de vacinação contra a covid-19, como símbolo de mais esse esforço nacional, ressaltando os valores que representa: o apego à ciência, a solidariedade, a união de forças e, sobretudo, a oferta de saúde e paz", afirma o texto, em um claro recado ao "Zé Gotinha Miliciano" do clã Bolsonaro.

Confira a íntegra da nota aqui.

Criador do Zé Gotinha critica versão bolsonarista: “péssimo exemplo para as crianças”

Darlan Rosa, o artista plástico que criou o Zé Gotinha em 1986, durante o governo José Sarney, se disse “indignado e assustado” com o desenho divulgado pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, em que o simpático personagem empunha uma metralhadora em forma de seringa. “O Zé Gotinha é um personagem do bem, criado com fins educativos. Colocá-lo com uma arma na mão é um péssimo exemplo que se pode dar a uma criança. Apologia de arma é coisa séria”, lamentou Darlan em entrevista exclusiva à Cynara Menezes, da Fórum.

Confira aqui.