Indústria não é prioridade do governo Bolsonaro, diz ex-presidente da associação do alumínio

Em artigo, ex-dirigente da Abal, chamou de “contradição” a postura de empresas e entidades que não criticam governos, mas querem ser ouvidas em discussões sobre o setor a que pertencem

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Recém-saído da presidência da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), cargo que ocupou por quase sete anos, Milton Rego afirmou, nesta terça-feira (9), que o setor industrial não é prioridade do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Em texto publicado em seu blog, Rego discorreu sobre os dados da balança comercial brasileira do ano passado. Eles mostram que participação de bens industrializados nas exportações brasileiras foi a mais baixa dos últimos 40 anos. “Isso é muito preocupante. O diabo é que a indústria está longe de ser prioridade para o atual governo”, afirmou. 

Para corroborar sua visão, o executivo cita entrevista do presidente do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger, ao jornal Valor Econômico, na qual ele defende a desindustrialização do país. Na entrevista, o presidente do Ipea afirmou que atividades de manufatura, com exceção do beneficiamento de recursos naturais, não são o melhor caminho para o Brasil.

“Vamos entender quem fala: o Ipea é o think tank do governo para política econômica. O seu presidente é uma escolha pessoal do ministro da Economia”, escreveu Rego.  Por isso, ele entende que o posicionamento de Doellinger “ecoa o do ministro Paulo Guedes”.

O executivo avalia que, ou a indústria recupera sua competitividade agora, “ou não haverá volta”.

Posicionamento claro

Em seu texto, Rego ainda criticou a postura de empresas e entidades que se recusam a criticar governos, mas querem ser ouvidas nas discussões sobre o setor a que pertencem. “Me parece que há uma contradição aí”, escreveu.

Segundo o executivo, o raciocínio resulta numa postura “conhecida” de corporações: “Não falamos de política. Nos posicionamos, mas não criticaremos o governo”, é o mote, afirma ele.

Para o ex-presidente da Abal, o setor empresarial precisa se posicionar claramente em relação a questões que ultrapassem o universo das companhias, mas que digam respeito a todos. “Desigualdade, sustentabilidade, mudanças climáticas, defesa da democracia, políticas de desenvolvimento, exigem um posicionamento claro”, escreveu.

Rego defendeu que o momento atual exige “associações e empresas seguras do seu papel na sociedade e dispostas a lutar por ele”. Para ele, isso significa que estejam abertas ao diálogo, “ao peso das eventuais críticas, pressupostos para construir pontes”. No Brasil, ele acredita que isso resulte em que elas “busquem cooperação com os diversos segmentos da sociedade em torno de uma agenda construtiva”.

Leia o texto completo nesse link.