De acordo com estudo desenvolvido pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP), a tributação do 1% mais rico pode ter um impacto positivo de 2,4% no Produto Interno Bruto (PIB) no país.
Essa taxação garantiria, também, a transferência de R$ 125 por mês para os 30% mais pobres da população brasileira, de acordo com reportagem de Thais Carrança, na BBC News Brasil.
Os autores do trabalho analisaram dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (POF do IBGE) de 2017-2018 e concluíram que os 10% mais pobres gastam 87% da renda em consumo e o 1% mais rico gasta 24%.
Segundo a economista Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), “a redução da desigualdade tem benefícios em si. Sabemos que ela tem custos que não só têm a ver com o direito à renda e à dignidade humana, mas tem também efeitos políticos, pois a desigualdade tende a criar distorções no próprio sistema democrático”, afirmou.
“Então, existem outros objetivos para reduzir a desigualdade, que não o crescimento econômico. Mas, muitas vezes, parece que no debate há um dilema entre crescer ou distribuir”, acrescentou a economista, uma das autoras do estudo, ao lado de Rodrigo Toneto e Theo Ribas.
“Isso cada vez mais está se revelando uma coisa que não tem sustentação empírica, por isso resolvemos demonstrar com dados um dos mecanismos que mostra que é perfeitamente possível desenhar um programa que combine redução da desigualdade com aumento do ritmo de crescimento econômico. Porque esses objetivos não são contraditórios”, emendou.
Dois problemas
Para ela, o Brasil tem hoje dois problemas com relação às políticas sociais. O primeiro é o fim do auxílio emergencial, que tem como consequência o aumento da desigualdade.
O outro, segundo Laura, é a necessidade de se discutir uma expansão dos programas de transferência de renda, especialmente o Bolsa Família.
“Hoje, está claro que o Bolsa Família é insuficiente para funcionar como um protetor para um conjunto da população que tem renda que oscila muito e está sujeita a cair na pobreza extrema”, analisou.