Atacadão, do grupo Carrefour, se envolve em outro caso de racismo

Episódio aconteceu em uma loja da rede atacadista em Salvador (BA), quando um menino de oito anos, negro, acompanhado da mãe, pegou um pacote de miojo e foi questionado por uma funcionária “se compraria, ou roubaria”

Foto: Grupo Carrefour (Divulgação)
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Após todo o desgaste causado na imagem do grupo Carrefour por conta do caso de racismo em Porto Alegra (RS) em novembro de 2020, que resultou no assassinato do soldador João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por seguranças da unidade, e de todas as ações de marketing da multinacional para tentar reparar os danos em sua reputação, um novo episódio de discriminação racial teria voltado a acontecer em uma de suas lojas, desta vez na bandeira Atacadão, em Salvador, capital da Bahia.

A garçonete Vitória Dimas conta que foi ao hipermercado atacadista em 30 de novembro, acompanhada do filho de oito anos, que é negro, e num determinado momento, o garoto, um pouco afastado dela, pegou um pacote de macarrão instantâneo. Foi então que uma funcionária do estabelecimento teria se aproximado da criança e perguntado se o menino “compraria o produto, ou roubaria” o produto.

A mãe conta que ficou muito revoltada com a cena e resolveu chamar a polícia para registrar um boletim de ocorrência, orientada pelo advogado Ivonei Ramos. A Polícia Civil, a partir da denúncia, instaurou inquérito para apurar os fatos e ouvir as partes envolvidas.

O delegado que preside as investigações chamou a mulher e seu advogado para prestar depoimento na manhã desta quinta-feira (9) e Vitória contou com detalhes sua versão do que considera um caso inequívoco de racismo por parte da funcionária da rede de supermercados. O depoimento especial do garoto também já foi colhido.

Ação civil pública será protocolada

O Coletivo de Advogados Cidadania, Antirracismo e Direitos Humanos irá protocolar na próxima semana uma ação civil pública para que o grupo Carrefour, dono da rede Atacadão, seja mais uma vez responsabilizado por dano moral coletivo, em decorrência do novo episódio de racismo, agora por conta da ocorrência na loja da capital baiana.

Movimentos negros têm questionado a real eficiência da milionária campanha realizada pelo Carrefour para promover mudanças em suas políticas e nas atitudes de seus milhares de funcionários no Brasil, assim como para tentar “consertar” parte do estrago causado pelo caso do assassinato Beto Freitas, no Rio Grande do Sul.

Além de todos os esforços que foram realizados na tentativa de acabar com episódios relacionados ao preconceito racial, o Carrefour assinou ainda um milionário Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), supervisionado por várias esferas do poder Judiciário e do Ministério Público, no valor de R$ 115 milhões com a Educafro e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos, que é alvo de questionamentos na Justiça por conta de acusações de que o texto do documento eximiu a empresa de responsabilidade civil pela morte do soldador gaúcho, além de um imbróglio sobre a natureza desses pagamentos, que poderiam ser considerados como renúncia fiscal pela multinacional.

O que diz o grupo Carrefour

A direção do Carrefour no Brasil, que controla a bandeira, disse que o Atacadão "realizou uma apuração interna do caso e foi identificado que na conversa com a criança não houve menção a furto".

"O Atacadão realizou uma apuração interna do caso e foi identificado que na conversa com a criança não houve menção a furto. A rede se coloca à disposição das autoridades e da família para prestar informações e qualquer apoio necessário nesse momento", diz o texto enviado pela assessoria.