Na biografia do ex-presidente Lula, escrita pelo jornalista Fernando Morais, há muitos personagens, mas um deles é central na primeira parte do livro: trata-se do advogado Luiz Carlos da Rocha, o "Rochinha" que, durante os mais de 500 dias em que Lula esteve preso, o visitou quase diariamente no período de cárcere do petista.
Luiz Carlos Rocha e Manuel Caetano foram os advogados de Lula durante os 580 dias em que Lula esteve preso em Curitiba.
Além da representação formal do ex-presidente, a missão deles era visitar o presidente todos os dias - com exceção de sábados, domingos e feriados -, e manter conversas para além daquelas que circundavam o líder petista à época.
Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, Luiz Rocha lembra de momentos compartilhados com Lula e de como encontrou "toda arrumada" a cela do ex-presidente ao fazer a sua primeira visita.
"Na primeira vez que eu entrei na cela do presidente Lula, eu notei um detalhe: tudo estava absolutamente organizado apesar dele ter recém chegado. Ele já tinha organizado, tinha colocado a cadeira no centro, a mesa no centro, as quatro cadeiras, a cama, o banquinho de travesseira perto da cama, alguns santos, porque ele é muito religioso", lembra Rocha.
Em seguida, Rocha fala que tal organização do ex-presidente Lula o fez lembrar de seu pai.
"Olhei pra ele e vi aquela cena e foi me passando um filme na minha cabeça do meu pai: ele viveu o final da vida dele solteiro e morando sozinho. Você ia na casa dele e tudo estava absolutamente no lugar", lembra.
Leitura compartilhada
Um fato que se tornou público mesmo antes de Lula deixar a prisão, foi que, neste tempo o ex-presidente adquiriu um vício: o da leitura.
Segundo Rocha, o ex-presidente Lula "comia com farinha" as leituras, ou seja, tornou-se um leitor voraz. O advogado lembra que comprava o mesmo livro que o ex-presidente estivesse lendo para conversar com ele sobre a obra em questão.
"Ele lia muito. Inclusive, eu tinha acabado de fazer o meu mestrado e estava meio preguiçoso pra leitura, mas aí eu comecei a acompanhar ele nas leituras, chegava um livro pra ele, eu comprava o livro e começava a ler, a gente lia junto e batia papo sobre o livro. Tivemos a oportunidade de ler vários livros… ele comeu os livros com farinha", lembra Rocha.
Regulação invertida da mídia: a imprensa queria jogar Lula no esquecimento
Questionado sobre as entrevistas que Lula concedeu enquanto esteve preso em Curitiba, Rocha afirma que chegava por volta das 8h30 da manhã para conversar com o ex-presidente sobre a entrevista a ser concedida.
"Nós acabamos, além do que fazíamos, de visitar o presidente, nós também cuidávamos das visitas e depois, quando foram liberadas as entrevistas, das pessoas que vinham entrevistar o presidente. Nós fazíamos uma prévia na noite anterior, falando como eram as coisas na Polícia Federal, onde ia ser a entrevista, como é que ia ser a questão da segurança, que horas que o pessoal tinha que estar lá pra entrar e também adiantando as posições do presidente", conta.
Em seguida, Rocha revela que, em uma conversa com o ex-presidente lhe disse que era preciso introduzir em seu discurso a questão da regulação da mídia.
"O presidente Lula…a Rede Globo, especialmente, decretou o esquecimento, a partir da decisão da Fux (Luiz Fux, ministro do STF) que proibiu o presidente de dar entrevistas, de falar definitivamente, se decretou o esquecimento".
O advogado, que se tonrou amigo e confidente do presidente Lula, também critia o fato de a imprensa tradicional de ignorado a visita de lideranças políticas e intelectuais renomados ao presidente Lula
"O que aconteceu foi o seguinte: as maiores lideranças europeias, e americanos, como o Noam Chomsky (escritor e considerado um dos maiores linguista do mundo em atividade) vieram a Curitiba… ex-presidentes de Repúblicas da América Latina, vieram visitar o presidente Lula e você não via sair um único registro".
Para Rocha, a imprensa tradicional impôs uma regulação invertida ao tratar desta maneira o presidente Lula.
"O Noam Chomsky vir visitar um preso no Brasil, num gesto de que ele considerava aquilo uma prisão política e não sair no Jornal Nacional… o que é isso? Isso é regulação da mídia de mão trocada… há uma regulação da mídia que não é pública, é privada e que atende interesses políticos", critica Rocha.
Confira abaixo a entrevista com Luiz Carlos Rocha, o “Rochinha”, na íntegra.