Em depoimentos prestados à Polícia Federal (PF), três funcionários do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) declararam que foram pressionados pela cúpula do Ministério da Justiça no caso do processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.
Ele fugiu para os Estados Unidos, com auxílio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), depois que teve pedido de prisão decretado por Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Allan é investigado no inquérito que apura participação de milícias digitais em ataques contra a democracia e as instituições.
As denúncias foram feitas pela delegada da PF, Silvia Amélia Fonseca de Oliveira, ex-diretora do DRCI; pelo coordenador de extradição do DRCI, Rodrigo Sagastume; e pela diretora substituta do DRCI, Priscila Campelo. As informações são de Aguirre Talento, André de Souza e Mariana Muniz, em O Globo.
Todos os servidores relataram que o caso da extradição do blogueiro bolsonarista teve, pela primeira vez, a interferência do ministério, que chegou a solicitar informações e cópias do material.
Silvia, inclusive, foi exonerada do cargo que ocupava, logo depois de ter encaminhado o processo de extradição para os Estados Unidos, o que contrariou o primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro.
A delegada afirmou, durante depoimento, que recebeu telefonemas do brigadeiro Antônio Ramirez Lorenzo, chefe de gabinete do ministro da Justiça, Anderson Torres, pedindo informações sobre o andamento do processo.
Como Silvia estava de férias, pediu para que a substituta Priscila Campelo desse seguimento ao caso.
Priscila afirmou que entrou em contato com o chefe de gabinete do ministério e foi informada que a pasta gostaria de obter informações sobre o andamento do processo de extradição, assim como em que momentos o processo passaria pelo ministério e qual o seria o papel da pasta nas etapas da solicitação de extradição.
Silvia destacou, ainda, que o secretário nacional de Justiça, Vicente Santini, amigo pessoal dos filhos de Jair Bolsonaro, a convocou para uma reunião no dia 3 de novembro. Na oportunidade, teria afirmado que a ausência de informação sobre o caso de Allan dos Santos causou um desconforto para o próprio secretário e para o ministério.
Depois disso, Santini deu ordem para que todos os processos de extradição passassem por ele.
Coordendor de extradição confirma ingerência de Santini
Rodrigo Sagastume confirmou que Santini também o chamou para uma reunião. Durante o encontro, afirmou que gostaria de ter sido avisado sobre o processo de extradição de Allan dos Santos.
O depoente disse, também, que antes do caso de Allan dos Santos nunca havia sido questionado por superiores a respeito do andamento dos processos de extradição.