Um caso de racismo durante uma conferência virtual realizada em 26 de novembro, no interior de São Paulo, veio à tona neste sábado (4). O evento, que era realizado pelo Conselho Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres da Prefeitura de Bauru (SP), em parceria com a Unesp, contava com a participação de mulheres negras para falar sobre racismo e foi interrompido abruptamente com um vídeo no qual gorilas apareciam dançando e fazendo sons característicos da espécie.
Letícia Pinho, de 22 anos, que é estudante de Jornalismo e mediava o encontro, contou em entrevista ao portal G1 que a palestra começaria às 14h e que o link para ingresso na sala virtual foi disponibilizado ao público dias antes do debate. Ela conta que perfis com nomes obviamente falsos começaram a entrar no espaço e algumas ofensas já passaram a ser proferidas.
“A mesa foi divulgada com antecedência, junto ao link da transmissão. Por volta das 14h, enquanto aguardávamos o pessoal, cerca de três pessoas com nomes claramente falsos entraram. Um dos perfis, com o nome de Maria Clara, compartilhou a tela e o vídeo dos gorilas começou”, explicou a futura jornalista.
Como os operadores do ambiente virtual estavam passando por dificuldades técnicas naquele momento, não foi possível remover da sala imediatamente os invasores, que seguiram com os insultos racistas. Uma professora da Unesp, Andressa de Souza Ugaya, que participaria da conversa, ainda exortou aos penetras racistas que saíssem do encontro, mas foi em vão.
"Eu falei que se não estivessem ali para contribuir, que saíssem da plataforma. Tudo isso com educação, mesmo estando com muita raiva”, falou Andressa ao G1.
Após alguns minutos sem interferir na palestra, os invasores voltaram a interromper as discussões e passaram então a compartilhar uma tela na qual apareciam três gorilas dançando e emitindo sons típicos desses animais. Um dos perfis que entrou no espaço para atrapalhar, identificado como Maria Clara, após as imagens dos macacos, projetou ainda um símbolo do Flamengo e colocou o hino do clube do Rio de Janeiro.
“Fiquei incrédula, chocada, não sabia o que fazer, não consegui falar nada. As pessoas aproveitaram do anonimato para praticar esse ato racista. Nos chocamos tanto com o que aconteceu que a mesa caminhou para esse assunto também, mudamos um pouco o foco”, completou Letícia Pinho.
Os participantes que presenciaram os ataques racistas afirmam que, pela voz do ofensor, que chegou a falar algumas vezes no microfone, tratava-se de um adolescente bem jovem, de 12 ou 13 anos. As organizadoras do encontro informaram ainda que registraram um boletim de ocorrência por injúria racial.
A Prefeitura de Bauru disse que determinou à Secretaria de Bem-Estar Social que inicie uma apuração para tentar identificar quem eram os operadores desses perfis que invadiram o evento virtual e cometeram atos de racismo, para que sejam tomadas medidas legais contra os autores. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) divulgou uma nota oficial repudiando o caso e em solidariedade às vítimas do covarde ataque racista.