O ano de 2021 ficará marcado na História do Brasil por uma série de razões, entre as quais se destacam muito mais aquelas de natureza negativa. Mas houve algo de positivo também no ciclo que se encerra nesta sexta-feira (31).
Começamos o ano com a primeira vacina contra a Covid-19 aplicada no braço de uma enfermeira negra de São Paulo. Mônica Calazans emocionou o Brasil e nos trouxe a esperança de viver sem o medo do vírus mortal que tirou a vida de 619 mil compatriotas. Foi em 17 de janeiro.
Só que no mesmo mês, uma grave crise provocada pela falta de suprimentos de oxigênio em Manaus (AM), por culpa da incompetência e descaso sistemáticos do governo Bolsonaro, dilacerou o país. Gente morrendo asfixiada no auge da pandemia e uma gestão federal inerte, batendo cabeça e pouco se lixando para as cenas catastróficas que vinham do norte. Era 14 de janeiro.
Fevereiro chegou e com ele a tal popularidade de Bolsonaro, tão alardeada por seguidores fanáticos, começa a dar sinais de desmoronamento. As eleições de Arthur Lira para a presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco para o Senado amornam o calor da rejeição ao chefe de Estado ultrarreacionário, que temia a possibilidade de um impeachment. O Brasil chega a 250 mil mortos pela pandemia do Sars-Cov-2 e os sinais de uma segunda onda brutal já apareciam no horizonte.
Em março, para além do derretimento acentuado de Bolsonaro, cada dia mais enlouquecido, paranoico e desumano, a proliferação do coronavírus explode pela segunda vez desde o início da pandemia. Milhares de brasileiros morrem diariamente intubados nas UTI's e a hecatombe toma contornos dramáticos. Ainda em março, o ministro do STF Edson Fachin anula as condenações do ex-presidente Lula, devolvendo assim seus direitos políticos. O petista converte-se imediatamente no contraponto ao extremismo tresloucado de Bolsonaro e passa a ser visto como o fiapo de esperança que botará fim no mais devastador governo dos períodos democráticos da História do Brasil.
Em abril a nação precisa "fechar" outra vez. O inimigo invisível chega a matar mais de 4 mil pessoas por dia e o medo deixa milhões de brasileiros trancados em casa. Os que não puderam ou não quiseram, seja pelo desemparo ou por estímulo irresponsável do governo negacionista, morrem às pencas nas unidades de saúde. Uma pressão descomunal coloca Jair Bolsonaro contra a parede e lança a imagem do Brasil no lixo perante o mundo. Uma CPI é aprovada para investigar com profundidade as insanidades impostas pelo consórcio de sádicos diabólicos que ditava as regras de "enfrentamento" à pandemia.
Em maio, o Brasil passa a assistir assiduamente às sessões do Senado Federal em que gente da pior espécie confessava seus crimes e desfilava um negacionismo estúpido, constrangedor e criminoso. As primeiras indicações de propina e desvios na compra de vacinas do governo que se autoproclama honesto surgem diante dos olhos de uma nação incrédula com tanta maldade e falta de humanidade. Os pedidos de impeachment se acumulam na mesa de Arthur Lira, já eram 95, mas o todo-poderoso do centrão segura as pontas e garante o pescoço do presidente extremista.
Como vinha ocorrendo durante todo o ano, o negacionismo e a agressividade política de Jair Bolsonaro e dos membros de seu caótico governo só aumentam e não foi diferente em maio. Num país arrasado pelas milhares de mortes, o líder radical de direita resolve trazer a Copa América para o Brasil depois de a competição ter sido deixada de lado por Argentina e Colômbia, preocupadas com uma possível nova onda de contaminações em decorrência da presença de muitos estrangeiros em seus territórios. Protestos contra o governo começam a tomar as ruas de diversas cidades e a repressão policial, alinhadíssima ao discurso reacionário do "chefe", recrudesce, ao ponto de dois homens perderem a visão no Recife (PE) por causa das balas de borracha disparadas a esmo por PMs. Lula fortalece sua postura de antítese de Jair Bolsonaro.
Em junho, o deputado Luis Miranda, outrora bolsonarista, lança a primeira pedra contra o castelo de areia da pretensa honestidade da gestão do maior extremista a chegar ao poder no Brasil. Um trambique na compra de uma vacina desconhecida, a Covaxin, esconderia um plano de US$ 1 de propina por dose, além do superfaturamento na aquisição do imunizante. O mundo desaba sobre a cabeça de Bolsonaro e de seu líder na Câmara, o deputado paranaense Ricardo Barros, apontado como suposto responsável pelo esquema.
O mês de julho é marcado por embates políticos agressivos. O Brasil passa a não ter mais dúvidas, com base nos radicalismo doentios e nas revelações da CPI, de que o governo Bolsonaro é a grande chaga do país. Corrupção, loucura, vaidade desmedida e sadismo viram a tônica das ações federais. Gente morrendo aos montes e um presidente da República sorridente e cruel desfila de moto nas tais "motociatas", espécie de passeios sobre duas rodas com seus fãs mais radicais e agressivos. O incêndio na Cinemateca Nacional, em São Paulo, serve como símbolo da ruína imposta ao país pelo extremismo amalucado e inútil.
Em agosto, o discurso golpista de lançar o Brasil num regime de exceção com o apoio das Forças Armadas passa a ser quase oficial e sequer é disfarçado. Uma tensão toma conta da sociedade como um todo e os rompantes do pretenso ditador são cada vez mais comuns. Sempre com generais a tiracolo, Bolsonaro só fala de "esticar a corda" e tenta a todo custo irromper uma onda de conflitos. O STF passa a monitorá-lo de perto e o grande medo a reinar é o do apoio de policiais militares, que poderiam dar substância aos anseios vigaristas do presidente.
Em setembro, no Dia da Independência, o atual ocupante do Palácio do Planalto convoca atos abertamente golpistas por todo o país e a tensão vai ao grau máximo. Só que o tiro saiu pela culatra. Muito menos gente na rua do que a expectativa, um recuo nítido e prudente dos comandantes militares e um rechaço quase que em uníssono da sociedade e das instituições republicanas fazem com que o projeto de ditador coloque o rabo entre as pernas e abaixe a bola. Ele apela até para a ajuda de Michel Temer após a tentativa frustrada de tomar o país de assalto.
Mas foi em outubro que Lula passou a ser o ponto de oposição único e agigantado ao bolsonarismo enlouquecido. As pesquisas passam a colocar o petista como franco favorito para a eleição de 2022 e retratam um Bolsonaro decadente e em processo de erosão absoluta em sua imagem. O Brasil bate 600 mil mortos pela Covid-19 e um dos maiores vexames internacionais de todos os tempos ocorre em Roma, na Itália, durante a reunião de cúpula do G20. Isolado como um pária, Bolsonaro é solenemente ignorado por praticamente todos os chefes de Estado e em vez de ir a reuniões de alto escalão, sai pelas ruas fazendo arruaça como um adolescente. Deixa de ir a encontros bilaterais para visitar loja de salames, enquanto seus seguranças surram jornalistas que cobriam o evento.
Novembro foi o mês de Lula. A vantagem sobre Bolsonaro chega a margens confortabilíssimas nas pesquisas e o ex-presidente faz um tour pela Europa, sendo recebido com pompa e circunstância em vários países. Foto com o novo chanceler alemão, Olaf Scholz, com o presidente de governo da Espanha, Pedro Sánchez, e principalmente a cerimônia com honras de chefe de Estado conferida a Lula pelo presidente francês Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, despertam a fúria de Bolsonaro, de seus ministros e das hostes violentas de apoiadores do "mito".
Finalmente chegamos a dezembro. Lula segue recebendo apoio de amplos setores de todo o espectro político e até de gente que andou nos últimos anos pelas bandas de Jair Bolsonaro. A chapa Lula-Alckmin ganha força. O presidente gasta seu tempo e energia com ataques a tudo que remeta à civilização. Após técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovarem o uso de imunizantes contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos, o presidente passou a incentivar ataques e represálias aos servidores, o que gerou revolta até em aliados dele. A Bahia enfrenta chuvas devastadores que deixam 26 mortos e um rastro de destruição poucas vezes visto. No lugar de dar assistência e prestar solidariedade às vítimas, Bolsonaro tira férias intermináveis no Guarujá (SP) e em Florianópolis (SC), enquanto o país o chama de vagabundo nas redes sociais. O Brasil encerra 2021 com a esperança firme de botá-lo de porta pra fora no ano seguinte, enquanto Lula consolida-se como única alternativa viável para resgatar o país mergulhado no caos e no ódio.