Omissão federal: Novas denúncias mostram abandono de yanomamis e crianças desnutridas

Povo originário da maior reserva indígena do Brasil, que fica em Roraima, segue largado à própria sorte, sem qualquer auxílio das autoridades do governo de Jair Bolsonaro. As imagens de meses atrás tornam a se repetir

Crianças yanomamis em situação de desnutrição (Divulgação/Condisi-YY)
Escrito en BRASIL el

Novas denúncias de abandono e descaso com povo yanomami por parte do governo federal repassadas nesta quinta-feira (30) pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, mostram que a situação de calamidade desta população originária, sobretudo de condições de saúde e alimentação, permanece.

Imagens trazem crianças em situação de desnutrição grave. Uma menina de cinco anos, pesando apenas 8,6Kg, quando o normal nesta faixa etária seria no mínimo 18kg, está em uma das fotos, ao que parece recebendo atendimento de profissionais de saúde numa unidade em estado de completo abandono.

"Enquanto o mundo se prepara para receber o ano de 2022, o meu povo Yanomami segue lutando para sobreviver contra malária e desnutrição", disse o representante indígena da etnia. De acordo com Hekurari, a mãe da menina o procurou, vinda da aldeia Wathóu, porque não conseguia atendimento médico para a criança, que além de desnutrida sofre com uma forma agressiva de malária, a falciparum, altamente letal, provocada por um protozoário parasita.

A menina finalmente recebeu atendimento médico num posto que fica na região fronteiriça de Surucucu após sua avó recorrer aos garimpeiros ilegais da área, que colaboraram para solucionar o sofrimento da família indígena.

Abandono crônico: Bolsonaro ignora problema

Os problemas com os Yanomamis que vivem na maior reserva indígena do Brasil se agravaram em 2021. Desde o começo do ano, vários relatos de conflitos e de abandono cada vez maior chegam à imprensa, enviados por lideranças locais.

Funai, os ministérios da Saúde, Defesa e da Justiça e Segurança Pública nada fazem para resolver a situação de absoluta calamidade vivida por esse povo originário. O desprezo de Jair Bolsonaro em relação ao assunto fez com que o partido Rede Sustentabilidade protocolasse junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro, uma ação em que solicita que a Corte obrigue o presidente da República a tomar medidas para proteger os indígenas Yanomami, que sofrem com doenças, falta de atendimento médico e medicamentos, além do avanço do garimpo ilegal.

A ação vem como um complemento à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, protocolada no início deste ano pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e partidos políticos, que tratava do mesmo tema e solicitava ações do governo, principalmente, para conter o avanço do garimpo nas Terras Indígenas.

Em maio, o ministro Luís Roberto Barroso atendeu ao pedido e determinou “a adoção imediata de todas as medidas necessárias à proteção da vida, da saúde e da segurança das populações indígenas que habitam as Terras Indígenas Yanomami e Mundurucu, diante da ameaça de ataques violentos e da presença de invasores, devendo destacar todo o efetivo necessário a tal fim e permanecer no local enquanto presente tal risco”.

Conflitos na “terra de ninguém”

Em maio, líderes indígenas afirmaram que duas crianças Yanomami, de 1 e 5 anos, teriam sido encontradas mortas na comunidade de Palimiú após o ataque armado de garimpeiros contra indígenas, na Terra Indígena Yanomami em Roraima. A informação foi divulgada em nota pública pela Associação Yanomami Hutukara.

Segundo a entidade, quando o ataque dos garimpeiros à comunidade começou, todos saíram correndo para se proteger dos tiros e muitas crianças acabaram se perdendo no mato e ficaram desaparecidas. No dia seguinte, algumas crianças foram encontradas, com a exceção de dois meninos.

Os indígenas teriam encontrado os corpos dos dois meninos na água, sem vida e, segundo relataram, as crianças estavam afogadas.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar