Dom Orlando Brandes, o arcebispo de Aparecida, usou um momento da Missa do Galo, realizada na noite desta sexta-feira (24) no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (SP), para, mais uma vez, fazer referência a um problema que envolve o governo Bolsonaro. Desta vez, o apelo do religioso foi com relação à vacinação contra a Covid em crianças.
"Dai força para as crianças sem afeto, sem amor, sem colo dos pais por tantos motivos. E menino Jesus, dá uma forcinha para que a vacina das crianças do Brasil chegue o quanto antes. Um grande presente de Natal à saúde de nossos filhos, de nossas crianças e de nossos netos", declarou Brandes.
Assista.
A fala do arcebispo vem em meio às cobranças para que o governo Bolsonaro libere a vacinação em crianças de 5 a 11 anos. A imunização com doses de Pfizer neste público foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, insistem em não liberar a aplicação da vacina sob o falso argumento de que não há dados conclusivos sobre a vacinação para esta faixa etária.
O governo chegou, inclusive, a abrir uma consulta pública para saber o que a população acha da vacinação em crianças - uma medida nunca antes utilizada, sem sentido e criticada por especialistas. A expectativa é que uma decisão oficial sobre o assunto seja anunciada em 5 de janeiro, e a ideia de Bolsonaro e Queiroga é liberar a vacinação em crianças somente mediante apresentação de prescrição médica, que é mais uma forma de dificultar a imunização deste público.
Sociedade Brasileira de Pediatria divulga manifesto
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) defendeu, em manifesto divulgado nesta sexta-feira (24), a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Além disso, a entidade disse que as mortes da população pediátrica por covid-19 não estão “em patamares aceitáveis”
No texto, a SBP pede pela “urgente implementação de estratégias” para reduzir risco de complicações, hospitalizações e mortes do público infanto-juvenil pela doença.
“Ao contrário do que afirmou recentemente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o número de hospitalizações e de mortes motivadas pela covid-19 na população pediátrica, de forma geral, incluindo o grupo de crianças de 5-11 anos, não está em patamares aceitáveis”, diz o manifesto da SBP. “Infelizmente, as taxas de mortalidade e de letalidade em crianças no Brasil estão entre as mais altas do mundo”, diz o texto.
Alto número de mortes
A instituição destacou ainda que, desde o início da pandemia, 2.500 pessoas de zero a 19 anos morreram por conta da doença, mais de 300 delas confirmadas no grupo de 5 a 11 anos.
A SBP apontou que há mais de 1.400 casos confirmados de Síndrome Inflamatória Multissistêmica (quadro grave de tratamento hospitalar, que se manifesta semanas após a infecção) em crianças, com mediana de idade de 5 anos. Ao menos 85 morreram por complicações neurológicas, cardiovasculares e respiratórias da síndrome, indicou.
A vacinação se apresenta como alternativa, de acordo com a entidade, para “controle e prevenção destes desfechos da doença e que está ao alcance dos responsáveis pelas políticas públicas de saúde do nosso País”. O imunizante, continua o manifesto, apresentou “elevada eficácia” nos estudos clínicos e nos testes no mundo real.
“O Brasil se encontra diante de hospitalizações, sequelas e mortes que são passíveis de prevenção em sua grande maioria”, destacou. “Ignorar este fato, minimizar sua importância e afirmar que elas são aceitáveis não são atitudes esperadas das autoridades. A sociedade espera e merece outro tipo de postura e de compromisso com a saúde das crianças e adolescentes do Brasil”, finalizou.