Bolsonarista, presidente da Itapemirim culpa prestadores de serviço e nega falência da empresa

Após deixar milhares de passageiros desassistidos depois de uma suspensão abrupta de todos os voos no Brasil, presidente da ITA afirma que deveria ser "enaltecido": "Ser empreendedor às vezes incomoda algumas pessoas"

Ciro Nogueira, Gilson Machado e Sidnei Piva, dono da Itapemirim ( Foto: Roberto Castro/Mtur)
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Com seis meses de operação no setor aéreo, a ITA - empresa do Grupo Itapemirim, hoje em recuperação judicial - suspendeu de forma abrupta todos os seus voos no Brasil, deixando desassistidos milhares de passageiros que esperavam a hora de embarcar.

Em entrevista ao Estadão, o presidente da empresa, Sidnei Piva, negou que a empresa esteja em estado falimentar, disse que a culpa da interrupção foi de prestadores de serviço que deixaram de fazer a operação aeroportuária da companhia e afirmou que a Itapemirim deverá estar "apta para voltar em breve".

“Suspenso não é cancelado. Quando voltarmos, teremos de preencher todos os questionários da Anac, mas a Itapemirim deverá estar apta para voltar em breve”, ressaltou.

Segundo o empresário, a paralisação não ocorreu por problemas financeiros. “Das companhias aéreas, a Itapemirim é a que menos deve”, garantiu. Piva afirmou que fez contatos com diversos fundos de investimento interessados em fazer aportes no negócio, mas se negou a revelar quais seriam, apesar da pergunta ter sido feita diversas vezes durante a entrevista.

"Por incrível que pareça a receptividade depois do que aconteceu nesses dois dias… Recebi mais de dez fundos muito bem intencionados em aplicar muito dinheiro na Itapemirim e estamos estudando as possibilidades. É uma companhia que foi um modelo. Vai ser um modelo. Isso dentro de uma humildade, de um parâmetro, que estamos adotando, mas os objetivos da companhia continuam. Tem companhias muito mais endividadas que a Itapemirim", disse.

Questionado pela repórter Luciana Dyniewicz sobre alegações de que teria deixado de pagar salários, que estaria devendo credores e de que teria cobrado para que pessoas se inscrevessem no processo seletivo da empresa, Piva negou a maior parte das acusações e afirmou que a empresa "está sofrendo um ataque muito forte e muitas notícias sem confirmação do que está acontecendo".

Segundo ele, ser um empreendedor no Brasil "às vezes incomoda algumas pessoas". "Todo mundo que começa a ter destaque no Brasil tem de ser colocado como bandido. Em outros países, é considerado herói. Aqui uma pessoa que tenta gerar emprego é taxada como bandido ou mal caráter. Isso machuca. Mas tenho minha vida limpa. Não tenho nenhum processo perdido, porque não estou com a mentira. Estou com a verdade", pontuou.

Presidente da ITA diz que deveria ser "enaltecido"

Ao ser perguntado se teria algo a acrescentar, o presidente da ITA pediu que a repórter "colocasse a sensibilidade do empresário". "Gostaria que você colocasse a sensibilidade do empresário. (Sou) um empresário batalhador. Levantei uma empresa que estava completamente quebrada. Recebi diversos prêmios de empreendedorismo porque fui e fiz acontecer", disse.

"Cuidei de 5 mil vidas que estavam abandonadas. Todos os tropeços acontecem. Ainda não somos uma empresa com caixa totalmente favorável, mas gostaria de deixar meu depoimento para você. Sou um gestor de empresa e trabalho para não deixar a empresa cair de forma alguma. Me considero um grande empreendedor, mas peço que os brasileiros compreendam a dificuldade do empreendedor de ser muito criticado em todos os seus atos", continuou Piva.

De acordo com o empresário, ele deveria ser "enaltecido" por "tirar uma companhia de um processo de falência". "É muito difícil, em uma situação dessa, com várias pessoas impactadas, sofrer um impacto da sociedade por diversos tipos de pontos de vista que nem sempre condizem com a realidade. Isso é muito triste, mas estou confiante. Confio em Deus. Sou um cara cristão. Estou trabalhando. Sou competente. Tenho uma equipe muito focada no trabalho", afirmou.

Desastre aéreo teve aval de Bolsonaro e Tarcísio Freitas;

Em uma live de outubro de 2020, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, anunciou para o presidente Jair Bolsonaro (PL) que o Grupo Itapemirim entraria no ramo de transporte aéreo. Durante a cena, em tom de comemoração, o presidente abre um pacote com um ônibus em miniatura da Itapemirim, enquanto o ministro conta a novidade.

A empresa, no entanto, teve o Certificado de Operador Aéreo da ITA Transportes Aéreos suspenso pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), horas depois da decisão do grupo de adiar 513 voos programados entre sábado (18) e o dia 31. Sem o documento, a empresa não poderá voltar a voar. 

Estranhamente, a Anac aprovou a concessão à Itapemirim Transportes Aéreos Ltda. em maio deste ano, em Reunião Deliberativa Eletrônica, para exploração de serviços de transporte aéreo público regular e não regular de passageiro, carga e mala postal, doméstico e internacional.

Viação Itapemirim S/A, que faz transportes terrestres, está em recuperação judicial. O que se diz no mercado é que a empresa, ao invés de pagar seus credores, teria jogado todo o seu capital ativo na empresa aérea. Seis meses após iniciar suas operações veio a suspensão dos voos.