Nova debandada: coordenadores da área de química renunciam na Capes

Os cientistas acusam a Capes de não respaldar o trabalho de avaliação desempenhado por eles e denunciam o abandono do Plano Nacional de Pós-Graduação; ao todo, 109 pesquisadores já deixaram a Coordenação de Aperfeiçoamento

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Após o desligamento de 80 profissionais da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), agora é a vez dos 29 Coordenadores e Consultores da Área Química renunciarem coletivamente.

Com isso, um total de 109 pesquisadores deixaram a Coordenação de Aperfeiçoamento e acusam a presidência de abandonar as políticas de avaliação e o Plano Nacional de Pós-Graduação.

Em carta aberta, os trabalhadores destacam que a atuação das coordenações de área e dos consultores ad hoc é um trabalho voluntário que eles realizam simultaneamente a outras tarefas.

"A atuação das coordenações de área e dos consultores ad hoc é um trabalho voluntário. Somos todos profissionais de instituições de ensino e instituto de pesquisa que, conjuntamente com todo o trabalho feito na CAPES, mantemos todas nossas atividades nas nossas instituições. Aceitamos de bom grado colaborar com a CAPES, sabendo que uma avaliação indutiva e formadora é o caminho para melhora a qualidade na formação de recursos humanos para o país, na produção de conhecimento e na transferência desse conhecimento para a sociedade. Somos do tempo em que se dizia com orgulho que a CAPES somos nós".

No entanto, ao justificarem suas respectivas renúncias, denunciam o fato de que não há, atualmente, a sinalização do Plano Nacional de Pós-Graduação para o período 2021-2030.

“Entendemos que a inexistência de uma política nacional de pós-graduação formalizada torna todo o sistema frágil, no sentido de que diagnósticos, metas e desafios estratégicos não estão disponíveis para toda a comunidade. Também não se pode mais falar em um verdadeiro diálogo. Desde 2020, fazem questão de ressaltar que, pelo estatuto, somos somente consultores. Consultores que ficaram sabendo de muitas das decisões depois que as mesmas foram publicadas".

Todavia, os signatários afirmam que, se por um lado inexiste uma política para a pós-graduação, do outro há "rapidez e empenho para a abertura de edital para avaliação de propostas de novos cursos (APCN).

“APCN é um dos processos de avaliação da CAPES (processo de entrada) e que se baseia em dados e não faz sentido que seja realizado antes que se tenha uma visão da situação real da área que seria dada pela avaliação Quadrienal 2021, atualmente suspensa. Também não faz sentido, em nosso entendimento, lançar um edital de APCN sem antes discutir e elaborar o PNPG 2021-2030, único documento que poderia nortear a elaboração de uma proposta condizente com o Projeto de Estado da Pós-graduação com a qualidade que o Brasil merece”.

Por fim, os pesquisadores lamentam o atual momento da Capes e afirmam que vão continuar a lutar para que ela volte a dar "orgulho".

“Lamentamos não poder concluir esta tarefa, a qual nos dedicamos fervorosamente. Saímos da nossa atividade voluntária de coordenadores e consultores ad hoc da CAPES, mas continuaremos a lutar para que num futuro, esperamos que não muito distante, possamos “voltar a afirmar com orgulho que a CAPES somos nós”, diz o trecho final da carta.

Cabe ressaltar que esses pesquisadores trabalham nos processos de avaliação dos cursos de pós-graduação.

Os coordenadores são nomeados pela Capes para mandatos de quatro anos e o restante atua nestas atividades de maneira não remunerada.

É a partir deste trabalho que os cursos de pós-graduação recebem as suas respectivas notas que, quanto mais alta, mais acesso a parcerias e bolsas os programas obtém.

Interesse privado

A renúncia de mais de cem pesquisadores da CAPES tem como pano de fundo pressão do setor privado para que os métodos de avaliação dos cursos sejam alterados e que os seus cursos de pós-graduação sejam aprovados.

Desde que o presidente Bolsonaro assumiu a presidência da República da CAPES vive em uma constante turbulência, principalmente no que diz respeito sobre o método de avaliação dos cursos de pós-graduação.

A presidenta da CAPES, Claudia Mansani Queda de Toledo, desde que foi empossada pelo ministro da Educação Milton Ribeiro, enfrentou resistência por causa do seu currículo, que foi considerado por seus colegas como inadequado para o cargo.

Além do lattes fora de padrão, Claudia Toledo nomeou uma aluna sua do doutorado para a diretoria internacional, o que gerou ainda mais ruídos entre os pesquisadores.

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