O presidente da Fundação Palmares, instituição do governo federal responsável pelo resguardo do legado negro na História do Brasil e pela promoção de igualdade racial no país, Sérgio Camargo, afirmou nesta terça-feira (9) que pichadores deveriam ser punidos com chibatadas.
A declaração grotesca é apenas mais uma no rol de absurdos que o radical bolsonarista ostenta, afinal, Camargo é um peso-pesado da tropa de choque do presidente de extrema direita que ocupa o Palácio do Planalto. Desde que foi nomeado para o órgão público, ele ocupa seus dias fazendo publicações odiosas, recheadas de xingamentos e de opiniões abjeta, o que para muitos é apenas uma forma de chamar a atenção, num desses casos que só a psicologia e psiquiatria explicam.
Só que o comentário desta terça (9) tem um ingrediente a mais no habitual modus operandi de Camargo, visto que o homem que ocupa um cargo relacionado às questões raciais num país marcado por mais de três séculos de um dantesco sistema escravagista que tinha como tônica a violência e a desumanidade contra os negros, posicionou-se favoravelmente ao uso da chibata, o instrumento símbolo da barbárie da escravidão.
"De acordo, minha amiga Ester Sanches. Chibatadas e multa, como em Singapura, seria uma solução. Pichadores não são 'artistas', são vândalos e marginais. Agem incentivados pela esquerda, que tudo emporcalha e destrói", escreveu Camargo em seu perfil no Twitter.
Ele continuou com o festival gratuito de incivilidades e ódio aproveitando uma temática bastante valorizada pelo bolsonarismo: culpar e demonizar a esquerda, a cortina de fumaça predileta de um governo que usa o espantalho mofado do “comunismo” para desviar o foco da opinião pública do catastrófico e caótico governo que conduziu o Brasil à pior crise econômica e social de todos os tempos.
"Sabem o que é isso, essa porqueira? Isso é esquerdismo!", concluiu o presidente da Fundação Palmares.
Por ser negro e representar uma entidade voltada à comunidade negra, Camargo sente-se legitimado para proferir insultos racistas, atacar personalidades negras de relevo e para tocar em questões sensíveis aos descendentes de escravos que formam uma gigantesca parcela da sociedade brasileira. Ao evocar a chibata, símbolo da mais violenta opressão aos negros no Brasil Colônia e Império, o extremista flerta com um cinismo bem característico do séquito de bajuladores de Jair Bolsonaro, já que as hostes ultrarreacionárias que sustentam a farsesca gestão federal em vigência tem como hobby dar declarações grotescas para na sequência dizer que foram mal interpretadas, ou vítimas da “ditadura do politicamente correto”.
Camargo investe abertamente na construção de uma figura detestável, talvez com intenções políticas, já que no Brasil dos últimos anos esse tipo de escatologia ideológica tem rendido votos, tanto é que recentemente se autointitulou "Black Ustra", numa referência ao coronel do Exército que notabilizou-se como o maior torturador da Ditadura Militar (1964-1985). Ele ainda encerrou a postagem na qual disse tal impropério com "Em respeito à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, retirei a postagem jocosa”.
Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um assassino sádico, amplamente reconhecido por suas vítimas e classificado oficialmente pela Justiça como torturador.
Camargo queria "queimar" livros
A tentativa de retirar obras de uma biblioteca e lançá-las ao lixo de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, reacendeu um velho tema e uma igualmente velha prática que atravessou os séculos: a queima de livros para proteger a população da “doutrinação”, da “má influência” ou do “pecado”.
Segundo Camargo, mais de 300 obras do acervo da Fundação Palmares tinham traços “marxistas, bandidólatras, de perversão sexual e de bizzarias”. A tresloucada iniciativa provocou a manifestação de figuras importantes da área da cultura no país e foi necessária uma ordem proferida pela Justiça Federal do Rio de Janeiro para proibi-lo de cometer tal insanidade estapafúrdia e criminosa.