Em uma atitude inédita na comunidade científica brasileira, 21 cientistas renunciaram coletivamente à medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico, condecoração que o governo Bolsonaro concedeu via decreto na última quarta-feira (3).
A motivação para a rejeição à honraria foi a exclusão, por parte do governo, de 2 cientistas que, a princípio, tinham sido agraciados: Marcus Vinícius Guimarães Lacerda, pesquisador da Fiocruz, e Adele Schwartz Benzaken, diretora da Fiocruz Amazônia. Os nomes deles constavam na primeira lista de agraciados, mas em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) na sexta-feira (5), eles foram excluídos.
Ambos são alvos de ataques de bolsonaristas. Lacerda conduziu um estudo em 2020, no Amazonas, em que concluiu que altas doses de cloroquina não ofereciam benefícios a pacientes graves de Covid-19. Já Benkazen elaborava políticas para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis no Ministério da Saúde e foi demitida após a criação de uma cartilha sobre a saúde de homens transexuais.
Em carta aberta, os 21 cientistas que rejeitaram a medalha citam os colegas e destacam a incompatibilidade de suas trajetórias com o caráter negacionista de Bolsonaro.
"Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas", escrevem.
"(...) a homenagem oferecida por um Governo Federal que não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não é condizente com nossas trajetórias científicas. Em solidariedade aos colegas que foram sumariamente excluídos da lista de agraciados, e condizentes com nossa postura ética, renunciamos coletivamente a essa indicação", prosseguem.
Leia, abaixo, a íntegra da carta aberta.