A Polícia Militar (PM) fluminense informou, nesta terça-feira (23), que subiu para dez o número de mortos na chacina do Salgueiro, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Segundo a corporação, um sargento e oito moradores do complexo de sete favelas, a princípio, perderam a vida. No entanto, uma nova morte foi contabilizada.
“Uma equipe do Samu foi acionada ao Salgueiro por conta de um indivíduo ferido, e criminosos armados obrigaram a retirada deste do local. O homem foi a óbito e reconhecido por policiais do 7ºBPM como um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição no sábado“, diz nota da PM, conforme a Reuters.
Nesta segunda (22), oito corpos assassinados foram encontrados por moradores do Salgueiro, depois de mais uma ação violenta do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM.
Moradores da comunidade foram às redes sociais para afirmar que o número de mortos pela polícia é superior. Parentes das vítimas declararam que há suspeita de tortura em alguns dos corpos e disseram que havia marcas de facadas e tiros.
A polícia, como sempre, nega que tenha ocorrido excessos na ação no complexo do Salgueiro. Porém, Defensoria Pública, Ministério Público, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanham o caso e pedem apurações.
O Complexo do Salgueiro, assim como a maior parte das comunidades periféricas no estado do Rio de Janeiro, é alvo sistemático de violência policial e graves violações de direitos humanos.
Ao menos três dos mortos não tinham antecedentes criminais por tráfico
Dos oito corpos retirados de dentro de um manguezal no bairro do Palmeira, após a chacina, pelo menos três não têm anotações criminais por tráfico de drogas. Sete já foram identificados por familiares, sendo que quatro eram investigados em inquéritos.
Uma das maiores entidades de defesa dos direitos humanos do mundo, a Anistia Internacional, por meio do seu escritório no Brasil, cobrou providências e uma investigação rigorosa sobre a chacina.
ONU pede investigação independente sobre chacina do Salgueiro
O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pediu, em declaração nesta terça-feira (23), que o Ministério Público conduza uma investigação independente e “de acordo com padrões internacionais” sobre a chacina.
Por meio de sua porta-voz Marta Hurtado, a ONU se diz “preocupada” com a notícia e pede que os autores sejam responsabilizados. O Alto Comissariado, liderado pela chilena Michelle Bachelet, também reitera que um “debate amplo e inclusivo” seja realizado com “urgência” no Brasil sobre o modelo de policiamento das favelas.