Anielle Franco, diretora executiva do Instituto Marielle Franco e irmã da ex-vereadora assassinada em 2018, abriu sua participação no Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (22), falando sobre a chacina ocorrida no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), que terminou com pelo menos oito mortos - moradores falam em mais de 20.
"Eu preciso prestar solidariedade às famílias e às mães que hoje choraram na favela do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Uma chacina, uma crueldade. Nós vimos diversas mães carregando corpos de seus filhos de dentro de um mangue", disse.
"Não é um caso isolado quando a gente abre o ano com a Chacina de Jacarezinho com 25 pessoas mortas e se depara no final de 2021 com mães retirando corpos de seus filhos de um mangue. Eu vou pela linha de que ninguém merece ser retirado de um mangue, ninguém merece morrer dessa maneira", continuou Anielle.
Segundo a Rede de Observatórios de Segurança, entidade composta por organizações acadêmicas e da sociedade civil que monitora e difunde informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos, até outubro deste ano foram registradas 38 chacinas no RJ (4 a mais que em 2020), 27 delas cometidas por policiais, o que culminou, no total, em 128 mortes. Isso significa que 71% das chacinas no Estado foram promovidas por forças policiais.
A diretora executiva também afirmou que era uma honra estar sentada em uma uma cadeira onde estiveram a escritora Conceição Evaristo, a médica Jurema Werneck e a deputada federal Benedita da Silva (PT).
"Eu só consigo chegar aqui hoje como eu chego porque eu sou fruto do feminismo negro, como afirma Núbia [Moreira], sou fruto da resistência de Benedita da Silva, que segue há mais de 20 anos na política, sou fruto do afeto e carinho de Bianca da Silva, de Marcelle Decothé, muita emoção sentar aqui", afirmou Anielle.
Anielle elogia Lula e o PT
Anielle também elogiou o ex-presidente Lula (PT) e disse ser uma das pessoas diretamente afetadas pela política dele. “Sou fruto dessas políticas públicas afirmativas do Lula. Todo histórico da minha família quando ele estava no poder, me enche de orgulho. Lembro que a vida era mais fácil e tinha sabor de humanidade”, disse.
A jornalista Vera Araújo relembrou uma antiga declaração dela sobre eleições e perguntou se se candidataria caso Lula pedisse. Anielle afirmou que responde depois que receber uma ligação do ex-presidente, mas revelou ter o desejo de fazer parte da construção de um novo governo.
Participaram da bancada de entrevistadores Cris Guterres, jornalista, colunista do Universa/UOL e apresentadora do Estação Livre, da TV Cultura; Laura Ancona, diretora de redação da revista Marie Claire; Jefferson Barbosa, jornalista da PerifaConnection; Preto Zezé, presidente da CUFA Global; e Vera Araújo, repórter investigativa do jornal "O Globo" e coautora do livro "Mataram Marielle".