José Carlos Bernardi, autointitulado “comentarista cristão”, que fez declarações com tom antissemita nesta terça-feira (16) em debate transmitido ao vivo na Jovem Pan News, não só perdeu o cargo que tinha na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) como também será investigado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP).
A procuradoria investigará suposto crime de ódio cometido por Bernardi por ter sugerido "matar judeus".
"A promotora de Justiça Maria Fernanda Balsalobre Pinto, que comanda o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi) do MPSP, instaurou um procedimento para apurar eventual cometimento de 'crime de ódio por intermédio de meios de comunicação', caracterizando antissemitismo, por conta de comentário feito pelo jornalista Jose Carlos Bernardi, no 'Jornal da Manhã', da Rádio Jovem Pan, nesta terça-feira (16/11)", diz nota da instituição.
A promotora solicitou, ainda, que a Jovem Pan envie a mídia original do programa contendo a fala do comentarista em até 3 dias.
Demitido da Alesp
José Carlos Bernardi perdeu o cargo de assessor parlamentar que tinha na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) nesta quarta-feira (17) por conta de suas declarações.
Bernardi era funcionário comissionado no gabinete do deputado Campos Machado (Avante), que anunciou a exoneração do assessor pelas redes sociais.
“Sempre respeitei o direito de opinião de qualquer cidadão, inclusive meus funcionários. Mas não poderia deixar de repudiar o infeliz comentário do meu assessor, jornalista José Carlos Bernardi, ofensivo a toda comunidade judaica, que muito respeito e admiro. Ainda mais por ser autor de lei criando o Dia Estadual da Lembrança do Holocausto. Assim, não me coube outra decisão que não a de exonerar, hoje mesmo, o referido funcionário de meu gabinete”, anunciou Campos Machado.
Bernardi foi contratado em maio e tinha salário de R$ 12.144,27.
“Matar um monte de judeus”
Em debate ao vivo na Jovem Pan News, Bernardi sugeriu que a morte de judeus ajudaria o Brasil a enriquecer e associou o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto – o genocídio promovido pelos nazistas que vitimou 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Ele discutia com a jornalista Amanda Klein a atuação de países europeus em defesa da Amazônia, chamando isso de “interferência”, e acusando a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, de ser “globalista” – discurso encampando por bolsonaristas que seguem as “teorias” de Olavo de Carvalho.
Em dado momento, Amanda Klein afirmou: “Quem dera se o Brasil chegasse aos pés do desenvolvimento econômico da Alemanha”.
Foi aí, então, que Bernardi, ainda que com tom irônico, fez o comentário, associando o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto. “É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha no pós-guerra”, disparou.
Frase “antissemita e burra”, diz coletivo de judeus
O coletivo Judeus Pela Democracia classificou a frase como “antissemita e burra”. “A fala de Bernardi apoia-se no mito antissemita da riqueza dos judeus e ignora totalmente os diversos fatores econômicos que alçaram a Alemanha ao patamar de desenvolvimento atual. É antissemita e é burra”, escreveu o coletivo.
“Cada vez que certos jornalistas emitem comentário de opinião na Jovem Pan, líderes totalitários fascistas devem se regozijar em seus túmulos (ou no colo do capeta, aos que creem). A fala de José Carlos Bernardi, que atribui o desenvolvimento alemão ao genocídio dos judeus, além de mentirosa e revisionista é reincidente na emissora. Já vimos Constantino, Nunes e outros que se dizem analistas vomitando suas atrocidades. Não à toa, este é o canal de ‘oficial’ do governo e da extrema-direita brasileira”, destacou ainda o grupo.
Retratação
Após a repercussão do ocorrido, a Jovem Pan News divulgou uma nota com um pedido de desculpas de José Carlos Bernardi.
Leia a íntegra.
“Peço desculpas pelo comentário infeliz que fiz hoje no jornal da manhã, primeira edição, ao usar um triste fato histórico para comparar as economias brasileira e alemã. Fui mal-entendido. Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio.
Mas, de qualquer forma, não quero que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido. Obrigado”