José Carlos Bernardi, autointitulado "comentarista cristão", que fez declarações com tom antissemita nesta terça-feira (16) em debate transmitido ao vivo na Jovem Pan News, perdeu o cargo de assessor parlamentar que tinha na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) nesta quarta-feira (17).
Bernardi era funcionário comissionado no gabinete do deputado Campos Machado (Avante), que anunciou a exoneração do assessor pelas redes sociais.
"Sempre respeitei o direito de opinião de qualquer cidadão, inclusive meus funcionários. Mas não poderia deixar de repudiar o infeliz comentário do meu assessor, jornalista José Carlos Bernardi, ofensivo a toda comunidade judaica, que muito respeito e admiro. Ainda mais por ser autor de lei criando o Dia Estadual da Lembrança do Holocausto. Assim, não me coube outra decisão que não a de exonerar, hoje mesmo, o referido funcionário de meu gabinete", anunciou Campos Machado.
Bernardi foi contratado em maio e tinha salário de R$ 12.144,27.
“Matar um monte de judeus”
Em debate ao vivo na Jovem Pan News, Bernardi sugeriu que a morte de judeus ajudaria o Brasil a enriquecer e associou o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto – o genocídio promovido pelos nazistas que vitimou 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Ele discutia com a jornalista Amanda Klein a atuação de países europeus em defesa da Amazônia, chamando isso de “interferência”, e acusando a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, de ser “globalista” – discurso encampando por bolsonaristas que seguem as “teorias” de Olavo de Carvalho.
Em dado momento, Amanda Klein afirmou: “Quem dera se o Brasil chegasse aos pés do desenvolvimento econômico da Alemanha”.
Foi aí, então, que Bernardi, ainda que com tom irônico, fez o comentário, associando o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto. “É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha no pós-guerra”, disparou.
Frase “antissemita e burra”, diz coletivo de judeus
O coletivo Judeus Pela Democracia classificou a frase como “antissemita e burra”. “A fala de Bernardi apoia-se no mito antissemita da riqueza dos judeus e ignora totalmente os diversos fatores econômicos que alçaram a Alemanha ao patamar de desenvolvimento atual. É antissemita e é burra”, escreveu o coletivo.
“Cada vez que certos jornalistas emitem comentário de opinião na Jovem Pan, líderes totalitários fascistas devem se regozijar em seus túmulos (ou no colo do capeta, aos que creem). A fala de José Carlos Bernardi, que atribui o desenvolvimento alemão ao genocídio dos judeus, além de mentirosa e revisionista é reincidente na emissora. Já vimos Constantino, Nunes e outros que se dizem analistas vomitando suas atrocidades. Não à toa, este é o canal de ‘oficial’ do governo e da extrema-direita brasileira”, destacou ainda o grupo.
Retratação
Após a repercussão do ocorrido, a Jovem Pan News divulgou uma nota com um pedido de desculpas de José Carlos Bernardi.
Leia a íntegra.
“Peço desculpas pelo comentário infeliz que fiz hoje no jornal da manhã, primeira edição, ao usar um triste fato histórico para comparar as economias brasileira e alemã. Fui mal-entendido. Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio.
Mas, de qualquer forma, não quero que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido. Obrigado”