Mauro Luiz de Britto Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), disse nesta sexta-feira (8), em entrevista ao Estadão, que os estudos científicos levados a cabo por laboratórios, institutos e universidades de todo o mundo, e que são tomados como parâmetro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para proibir o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19, não são suficientes para que o órgão chefiado por ele vete o uso da substância no país.
“Uma coisa são os estudos de gabinete. Outra coisa diferente é a prática da medicina. E temos que levar isso tudo em conta. Não podemos pegar trabalhos científicos e tomarmos uma decisão em cima apenas desses fatores. Eles são importantes, mas não são os únicos. Não tiro a sua razão, mas quando contextualizamos com casos concretos, num país continental como o nosso, em que temos excepcionais hospitais nos grandes centros e o médico que atende a população ribeirinha na Amazônia, é outro Brasil”, disse o médico que dirige o CFM.
Se esquivando do notório alinhamento político com o radicalismo do presidente Jair Bolsonaro, Britto Ribeiro argumenta que as decisões do CFM, além de “científicas”, são tomadas por um colegiado, o que impediria qualquer viés ideológico. Para traçar o raciocínio, o profissional bolsonarista também atacou a imprensa, como habitualmente faz seu líder.
“A imprensa também usa politicamente o nosso parecer. Estou sendo colocado como investigado (na CPI) sem nunca ter sido ouvido, porque as pessoas dizem que o CFM incentiva o tratamento precoce. A interpretação do presidente está dentro do que está no parecer, “apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce”. Mas não vou ficar discutindo com o presidente. Nossas decisões são técnicas. Elas refletem a conduta dos mais de 530 mil médicos que existem no País. Como podem pensar que vamos levar em conta a posição política de alguém, mesmo sendo o presidente da República, o ministro? Isso não existe aqui no CFM. É impossível acontecer isso. Eu fui o relator do parecer. Ele foi discutido detalhadamente, ponto a ponto, e votado pelos 28 conselheiros. Não tem como, numa decisão colegiada, ter essa influência política”, disse.
Questionado se não seria antiético, ilegal e antiprofissional tomar a autonomia médica como algo sem limites, uma vez que o termo aplica-se aos “tratamentos e meios cientificamente reconhecidos”, Britto Ribeiro insistiu na necessidade de se utilizar o tal kit-Covid pelo simples fato de não existirem outros métodos.
“Sim, mas para as doenças para as quais existem tratamentos. Não é o caso da covid, que é uma doença que não tem tratamento. Esse é o ponto. A covid é uma doença terrível, altamente transmissível, que sequela, mata e para a qual não há tratamento reconhecido. Por isso, é possível usar uma droga reposicionada. O dia em que houver um remédio específico, não será mais assim”, opinou.