Nazista preso no RJ disse que "caça" homossexuais; "Não surpreende", diz pesquisadora

Preso sob acusação de estupro, homem do RJ tinha armas e "arsenal" de material nazista em casa, avaliado em cerca de 3 milhões de euros; especialista em grupos de extrema-direita diz que hitlerismo cresce no país

Material apreendido com neonazista no RJ (Divulgação/Polícia Civil)
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Aylton Proença Doyle Linhares, neonazista preso no Rio de Janeiro, na última terça-feira (5), sob a acusação de estuprar um menino de 12 anos, disse à Polícia Civil que "caça" homossexuais.

"Ele é um cara inteligente e articulado, mas nega o Holocausto, é homofóbico, pedófilo e diz que caça homossexuais", disse o delegado responsável pelo caso, Luis Armond.

A investigação contra Linhares começou a partir de uma denúncia de um vizinho que suspeitou do abuso sexual. A polícia, então, descobriu que o homem tentava agarrar crianças no condomínio em que mora e conseguiu junto à Justiça um mandado de prisão temporária.

Ao chegar na residência do suposto abusador, os agentes policias se depararam com um farto material nazista, além de armas e munição. Foram encontrados, por exemplo, uniformes nazistas, bandeiras com suásticas, quadro de Adolf Hitler, medalhas do Terceiro Reich, capacete militar e até mesmo uma espécie de passaporte nazista com sua foto. Segundo a polícia, o material encontrado, junto com as armas, é avaliado em cerca de 3 milhões de euros.

À Fórum, Adriana Dias, doutora em antropologia social pela Unicamp e considerada uma das maiores pesquisadoras do neonazismo no Brasil, afirmou que é provável que, pela quantidade de artigos nazistas, Linhares deve colecionar esse tipo de material "há muito tempo". Segundo ela, o homem deve participar de alguma célula neonazista na web ou deepweb.

"A quantidade de material é realmente bastante surpreendente. O que não é surpreendente, infelizmente, é que isso exista no Brasil. Você vê que é uma pessoa que tem homofobia, que é pedófila", pontua.

Segundo a estudiosa, "é muito comum nos grupos neonazistas o apreço por uma não moralidade, eu diria, na qual o sujeito branco tem o poder sobre os corpos das outras pessoas". "David Lane, que é o neonazista que biografei durante meu doutorado, também era pedófilo", destaca.

Hitlerismo

Adriana Dias, que já falou à Fórum em outras ocasiões sobre aspectos nazistas que permeiam o governo de Jair Bolsonaro e, consequentemente, estimulam a ação de grupos de extrema-direita, considera que é "extremamente estranho as pessoas estarem vendo no Brasil uma saída pelo hitlerismo". Ela considera que essas ramificações do pensamento neonazista vêm crescendo.

"E nossas crianças estão sendo ameaçadas. Acho muito triste tudo isso e fico muito triste com o fato das pessoas compactuarem e celebrarem esse momento", opina.

Além de autuado por abuso sexual, Linhares responderá, por conta dos materiais nazistas e armas encontradas, por porte ilegal e discriminação racial.

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