O novo aumento dos preços dos combustíveis anunciado pela Petrobras nesta segunda-feira (25) acontece no mesmo dia em que a problemática política de preço de paridade de importação (PPI) da Petrobras completa cinco anos. Adotada pela diretoria da estatal após o golpe que derrubou Dilma Rousseff, e mantida pelo governo de Jair Bolsonaro, a PPI é apontada como a principal responsável pela disparada nos preços da gasolina, do gás de cozinha e do diesel em níveis muito acima da inflação.
Somente neste ano, já aconteceram 12 aumentos na gasolina, 13 no diesel e 8 no GLP diretamente nas refinarias. A disparada no preço dos combustíveis é um dos fatores que mais pesam na inflação, que já passou de 10,2% nos últimos 12 meses.
Nos últimos cinco anos (outubro de 2016 a outubro de 2021), as altas nas refinarias foram de 107,7% para a gasolina, 92,1% para o diesel e de impressionantes 287,9% para o gás de cozinha. Neste mesmo período, a inflação foi de 25,4%, medida pelo IPCA/IBGE. Esses dados que a Fórum teve acesso fazem parte de estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP), com base em dados da Petrobras e da Agência Nacional de Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural (ANP). Confira tabelas no final da matéria.
Nos postos de combustível, a alta acumulada da gasolina em cinco anos é de 74,%; do diesel, 68,2%; e do gás de cozinha, de 84,2%.
O Dieese aponta que com valores corrigidos pela inflação (IPCA/IBGE), o botijão de 13kg de gás de cozinha custava em média R$ 69,21 no Brasil, em outubro de 2016. O litro da gasolina era vendido a R$ 4,58 e o do diesel a R$ 3,76. Na semana passada, a média de revenda do botijão foi para R$ 101,96 (subiu 47% acima da inflação em cinco anos), o litro da gasolina alcançou R$ 6,36 (alta de 39%) e o do diesel R$ 4,98 (alta de 32%).
Enquanto os combustíveis saltaram, o salário mínimo não teve ganho real. Pelo contrário, variou abaixo da inflação, em 25%.
Durante o governo Bolsonaro, a tendência de aumentos reais nos preços dos combustíveis também fica evidente. Nas refinarias, as altas entre janeiro de 2019 e outubro de 2021 foram de 106,6% na gasolina, 81,4% no diesel e 100,5% no gás de cozinha. Nos postos de revenda, alta foi de 46,4% na gasolina, 46,3% no diesel e 47,3% no gás de cozinha. Nesse período, a inflação foi de 16,5% e o salário mínimo variou apenas 10,2%, perdendo ainda mais seu poder de compra.
O economista Cloviomar Cararine, do Dieese, aponta que "embora com frequência menor, os reajustes estão mais intensos com Bolsonaro do que com Temer, por conta das variações mais acentuadas do preço do barril e do câmbio".
Com base nesses dados, o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, criticou a PPI. Para ele, o PPI tem apenas a função de garantir lucro recorde da Petrobrás enquanto promove perdas para a população, sobretudo para os mais pobres.
"Embora autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil está refém do equivocado PPI, que calcula os preços dos combustíveis com base no mercado internacional do petróleo, na variação do dólar e dos custos de importação”, afirmou.
"Esses reajustes que a gestão da Petrobrás, com o aval de Bolsonaro, vem aplicando no gás de cozinha, no diesel e na gasolina podem ser evitados. Basta a empresa parar de usar somente a cotação do petróleo e do dólar e os custos de importação e considerar também os custos nacionais de produção. Afinal, a empresa utiliza majoritariamente petróleo nacional que ela mesma produz”, apontou Bacelar.