Loja da Zara onde delegada sofreu racismo tinha código para discriminar clientes "fora do padrão"

Alvos eram pessoas negras e julgadas como "mal vestidas"; gerente que discriminou Ana Paula foi indiciado por crime de racismo

Loja Zara (Reprodução)
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Investigações da Polícia Civil descobriram que a loja da Zara em Fortaleza, onde o gerente foi indiciado por crime de racismo contra a delegada Ana Paula Barroso, tinha um código sonoro para alertar funcionários sobre a entrada de pessoas "suspeitas" e que precisariam ser monitoradas no local.

A frase "Zara zerou" era disparada no alto-falante quando entrava um cliente fora do padrão desejado pela loja, "que poderia colocar a segurança em risco". Em entrevista ao portal "Diário do Nordeste", o delegado geral Sérgio Pereira informou que, após ser emitido o sinal, a pessoa era acompanhada pelos funcionários, "não para ser atendida, mas naquela situação de vigilância ininterrupta".

Os alvos eram pessoas negras e julgadas como "mal vestidas". Ana Paula, por exemplo, diz ter sido barrada por um funcionário do estabelecimento comercial que a teria impedido por “questões de segurança”, enquanto pessoas brancas circulavam normalmente dentro da loja.

O motivo seria porque a delegada estaria consumindo um sorvete e usando a máscara de proteção de forma incorreta. No entanto, a polícia apresentou vídeos que mostram clientes brancos na mesma loja da Zara consumindo alimentos e sem o uso correto da máscara, sem serem barrados. 

Em nota enviada nesta terça-feira (19), a Zara afirmou que a abordagem não foi motivada por questão racial, mas por causa de protocolos de saúde. Informou ainda que "não tolera nenhum tipo de discriminação".

Além disso, ressaltou que não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação e que "quer manifestar que colaborará com as autoridades para esclarecer que a atuação da loja durante a pandemia Covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde".

"A Zara Brasil conta com mais de 1800 pessoas de diversas raças e etnias, identidades de gênero, orientação sexual, religião e cultura. Zara é uma empresa que não tolera nenhum tipo de discriminação e para a qual a diversidade, a multiculturalidade e o respeito são valores inerentes e inseparáveis da cultura corporativa. A Zara rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser combatido com a máxima seriedade em todos os aspectos".

Gerente é indiciado por crime de racismo

Nesta terça-feira (19), a Polícia Civil do Ceará informou que o suspeito do caso, o português Bruno Filipe Simões Antônio, de 32 anos, que é gerente da unidade, foi indiciado pelo crime de racismo. Ele também é suspeito de constranger uma cliente que se recusou a pagar por roupas da Zara pelo preço em dólar australiano, como estava na etiqueta.

Antônio foi indiciado no artigo 5º da Lei de Crimes Raciais por recusar, impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. As imagens analisadas pela polícia demonstraram a atitude discriminatória do suspeito.

No vídeo obtido por meio do circuito interno da loja dá para ver o tratamento diferenciado dado pelo funcionário à vítima. Nas imagens, ela é expulsa do local, quando minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente que, mesmo não consumindo nenhum alimento, não fazia o uso correto da máscara. A cena foi observada em outras situações onde outros clientes também não foram retirados da loja ou abordados para que utilizassem a máscara de forma correta.

O crime de racismo está previsto na Lei 7.716/89, e ocorre quando o agressor atinge um grupo ou coletivo de pessoas, discriminando uma etnia de forma geral. A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Ao contrário da injúria racial, cuja prescrição é de oito anos, o crime de racismo é, além de inafiançável, imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

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