Um grupo de produtores de dendê do Vale da Bucaia, no nordeste do Pará, acusa a empresa Brasil BioFuels (BBF) de enviar homens armados à região para torturá-los e tentar matá-los. O episódio teria ocorrido em 1° de outubro, no início da manhã, e algumas das vítimas ficaram com ferimentos. Há também veículos que teriam sido danificados pelos pistoleiros, alguns inclusive com marcas de tiros. O conflito teria origem numa disputa de terras da região, cultivada pelos agricultores de Palma, e que é reivindicada pela BBF.
“Um grupo se aproximou de nós, muito fortemente armado, da empresa BBF, atirando contra os agricultores; estavam lá mais de 20 agricultores. Fomos empurrados, agredidos pelos seguranças. Fomos amarrados, (usaram) spray de pimenta. Passamos deitados, ali no chão, (por) cinco horas”, denuncia Marcos Nunes Pinto, que é integrante da Associação de Agricultores e Produtores de Dendê do Vale da Bucaia, que afirma serem os “seguranças” contratados pela BBF.
O gabinete do deputado Carlos Bordalo (PT) e membros da Comissão Pastoral da Terra, da Igreja Católica, cobram a apuração do caso, que, a depender da veracidade dos fatos, poderia ser classificado como um ato de jagunçagem contra populações humildes da região de floresta. “Estamos com várias entidades de Belém acompanhando, mas ainda colhendo o que de fato ocorreu para uma posterior posição em conjunto. É preocupante sim o que a imprensa noticiou”, informou o padre Paulino Juanil, da pastoral.
Agressões, tortura, tiros e ameaças
As denúncias dão conta de que alguns agricultores foram agredidos pelo bando armado, ficando com ferimentos, como foi o caso do líder Marcos Nunes Pinto, que precisou ser levado a Belém para atendimento médico por conta das agressões que sofreu na cabeça, enquanto outros foram alvos de disparos. No vídeo que denuncia as ações existem relatos também de que alguns trabalhadores foram amarrados e espancados. As imagens mostram covas abertas no solo, onde, de acordo com a versão apresentada pelos trabalhadores, os agressores enterrariam os produtores de dendê após executá-los.
Os denunciantes afirmam que desde que a Biopalma, empresa que atua no ramo de óleo de dendê, foi vendida à BBF, os casos de violência contra eles vêm aumentando. De acordo com os agricultores, episódios de truculência e até de violência aberta têm sido registrados desde então.
O caso foi registrado também pela Polícia Civil do Pará e por determinação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado está sendo apurado por equipes que foram encaminhadas ao local, em conjunto com os organismos da sociedade civil que que atuam em questões e conflitos fundiários.
O que diz a Brasil BioFuels
A reportagem da Fórum procurou a empresa acusada pelos trabalhadores de cometer os supostos atos de violência, tortura e intimidação. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Brasil BioFuels deu uma versão diferente da dos agricultores. Segue a íntegra da nota encaminhada à Fórum.
“A Brasil BioFuels (BBF) informa que no dia 01/10/21, por volta das 6 horas da manhã, quando trabalhadores se dirigiam a algumas das fazendas da empresa, no Pará, para realizar a colheita de palma de óleo, foram surpreendidos por aproximadamente 25 invasores que há alguns meses têm tentado ilegalmente se apropriar das fazendas da BBF, instalando barracos no local, furtando os frutos pertencentes à empresa e impedindo, com emprego de violência e grave ameaça, a continuidade das atividades dos trabalhadores rurais da BBF.
Durante o mês de setembro, os invasores promoveram verdadeiro terror na localidade, ameaçando os trabalhadores com arma de fogo, cercando os representantes da empresa e impedindo os caminhões e demais veículos da empresa de sair do local, promovendo o furto de grande quantidade de frutos colhido pelos empregados da empresa.
Diante de tantas ocorrências, devidamente comunicadas às autoridades policiais, a BBF tem reforçado sua equipe de segurança com o objetivo de preservar a integridade física de seus colaboradores, que vêm sofrendo ameaças em inúmeras localidades em que atua no Estado do Pará, além de mitigar os grandes prejuízos financeiros suportados por invasões ilegais, muitas vezes estimulada por advogados e comerciantes locais, que financiam tais condutas criminosas para se apropriar de ganhos oriundos do furto de frutos.
No dia 1 de outubro, conforme já era previsto, os invasores pertencentes à Comunidade conhecida como Bucaia, aguardavam os trabalhadores da BBF novamente portando armas de fogo, alguns com sachos, facões e outras armas brancas, os quais foram devidamente apreendidas pela polícia civil em auto próprio.
Os invasores, mais uma vez, efetuaram bloqueio e passaram a agredir os colaboradores da BBF, com nova tentativa de adentrar a cabine do caminhão da empresa e agredir o motorista, como ocorreu na situação anterior – um dos agressores inclusive efetuou um disparo de arma de fogo, atingindo o veículo, o que ocasionou um verdadeiro tumulto e alguns funcionários da BBF sofreram lesões e passaram por atendimento médico.
Imediatamente, e em resposta a mais essa investida dos invasores contra o pessoal da BBF, a equipe de segurança se viu obrigada a agir de forma a evitar novas ocorrências e, principalmente, com o objetivo de desarmar os insurgentes e evitar situações mais graves, além de desmontar os barracos ilegalmente instalados em um ponto de uma das fazendas de dendê da BBF.
Diante dessa situação, a polícia local foi acionada pela BBF para conter a situação. O Boletim de Ocorrência 00117/2021.100792-6 foi registrado na delegacia de Concórdia do Pará - 3ª RISP. A BBF aguarda apuração do caso para maiores esclarecimentos.
Na mesma localidade, já foram registrados diversos Boletins de Ocorrência em decorrência de incontáveis furtos de frutos, desmatamento, ameaças e lesão corporal na área de atuação da empresa pelos indivíduos da referida comunidade.
A BBF lamenta o ocorrido e aguarda uma atuação firme das autoridades, de modo a elevar a segurança pública das regiões nas quais atua, com a geração de mais de 6000 empregos, sendo importante para a economia das localidades do Pará e demais estados da região norte, onde possui negócios.
Em relação à apuração do caso pela Assembleia Legislativa do Pará e a Comissão Pastoral da Terra, a BBF reitera que está à disposição das entidades para contribuir, apresentar provas e boletins de ocorrências que possui registrados, tão logo seja solicitado.
A Companhia também reforça o respeito às pessoas e às comunidades e reafirma seu compromisso social, ambiental, econômico e energético.”