Uma entrevista do teólogo e pastor Zé Barbosa Jr. concedida à Folha de S. Paulo ganhou grande repercussão no último domingo (3) em razão da defesa da ideia de que o socialismo não está tão distante do cristianismo. Essa tesa é o que orienta o curso "Cristo e Socialismo - Uma união pra lá de possível", promovido na plataforma Fórum Educação.
À Fórum, o pastor comentou sobre a entrevista dada à jornalista Anna Virginia Balloussier, da Folha, e o retorno que recebeu nas redes sociais. Apesar de ter sofrido ataques, o teólogo classificou como positiva a visibilização do debate que o caso promoveu.
"Resolvi, diferente das outras vezes, não 'dar trela' para os comentários pejorativos e violentos. É o modus operandi dessa turma: provocar a briga para depois se dizerem perseguidos. Não vou cair no jogo deles. Não mais", afirmou. Segundo ele, a maioria das mensagens que recebeu foram "palavras de apoio e de grata surpresa".
"O mais curioso é que muita gente chegou à reportagem por conta de 'haters' tipo a turma do MBL que expôs o título da reportagem para criticar os cristãos de esquerda. Como creio que Deus é, também, bem humorado e irônico, nada mais natural que usar a própria fala do 'inimigo' contra ele mesmo", declarou. Segundo Barbosa, muitas pessoas se inscreveram no curso após a reportagem, que foi a mais lida da Folha de S. Paulo no domingo.
Pai Nosso socialista
Um dos pontos que mais chamou atenção na matéria da Folha foi a ideia de que o Pai Nosso é uma oração socialista. Zé Barbosa defendeu a tese explicou que "é claro que o Pai-Nosso não é uma oração 'influenciada' pelo socialismo", mas "casa perfeitamente com o espírito do socialismo".
"O Pai, o Pão, e o Perdão são comunitários, sociais, compartilhados, repartidos. Não há espaço para acúmulos ou meritocracias para quem reza/ora o Pai-Nosso", explicou.
Na entrevista, Zé Barbosa, que também é colunista da Fórum, ainda explica como surgiu a ideia do curso. "Sempre digo que é impossível dissociar religião da prática política, ainda que lutemos pela total separação entre Igreja e Estado", disse.
Confira a entrevista na íntegra:
A reportagem sobre o curso foi bastante comentada nas redes sociais. Como viu essa repercussão?
Sim. Foi um comentário geral. Durante muito tempo a reportagem permaneceu como a mais lida da Folha no domingo. Essa repercussão mostra o quanto ainda é desconhecido o meio progressista/de esquerda evangélico. E olha que nós somos muitos e estamos há tempos nas ruas e nas redes. Mas vejo de forma positiva, pois sempre é bom poder mostrar que há, sim, cristãos de esquerda. É mais que necessário nesse momento.
Chegou a receber ataques após a publicação da matéria?
Sim, sim! Diversos. Mas foram muito mais as palavras de apoio e de grata surpresa. E resolvi, diferente das outras vezes, não "dar trela" para os comentários pejorativos e violentos. É o modus operandi dessa turma: provocar a briga para depois se dizerem perseguidos. Não vou cair no jogo deles. Não mais.
Um dos pontos mais comentados foi a ideia de que o “Pai Nosso” é uma oração socialista. Poderia explicar melhor essa tese?
Sim! Não há como olhar para a oração do Pai-Nosso e não perceber ali as mesmas coisas que o socialismo defende. É até bom falar disso, pois é claro que o Pai-Nosso não é uma oração "influenciada" pelo socialismo (alguns quiseram forçar isso na interpretação). Seria um anacronismo sem igual. O que quis dizer é que a oração mais conhecida da cristandade casa perfeitamente com o espírito do socialismo. O Pai, o Pão, e o Perdão são comunitários, sociais, compartilhados, repartidos. Não há espaço para acúmulos ou meritocracias para quem reza/ora o Pai-Nosso.
Como surgiu a ideia do curso Cristo e o Socialismo? De que maneira ele se vincula a sua atuação política e religiosa?
Surgiu de uma conversa com o [Renato] Rovai [editor da Fórum], exatamente por conta da minha militância político-religiosa. Sempre digo que é impossível dissociar religião da prática política, ainda que lutemos pela total separação entre Igreja e Estado. Há uma linha tênue entre essas relações (Religião-Política x Igreja-Estado), mas ela existe. Sou cristão, sou evangélico, e sou de esquerda, sou socialista. Isso tudo está atravessado em minha existência e a forma como leio a Bíblia, a interpreto e procuro vivenciá-la, como pastor, é gritantemente a favor da justiça social, contra as opressões e na luta pela plena igualdade e dignidade humana. Isso só encontra eco no socialismo.
Acredita que a repercussão da reportagem ajudou a divulgar o curso?
Sim, sim… Muitas pessoas estão se inscrevendo porque leram a reportagem e outras ainda estão mais interessadas pelo tema, e provavelmente farão também o curso. O mais curioso é que muita gente chegou à reportagem por conta de "haters" tipo a turma do MBL que expôs o título da reportagem para criticar os cristãos de esquerda. Como creio que Deus é, também, bem humorado e irônico, nada mais natural que usar a própria fala do "inimigo" contra ele mesmo.