Mães de alunos de escolas de elite hostilizam professores da rede pública que são contra volta às aulas

Uma professora da rede pública de SP denuncia que vem sendo exposta e ofendida nas redes sociais por se mobilizar contra a volta presencial das aulas em meio à pandemia

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Nesta quinta-feira (28), uma comissão formada por profissionais de educação e pais de alunos da rede pública de educação de São Paulo foi recebida por técnicos da secretaria municipal de Saúde para uma reunião sobre a volta presencial das aulas.

O grupo de professores e pais de alunos se posicionam contra a reabertura das escolas, previsto para o início de fevereiro, em meio à alta dos casos e mortes de Covid-19 na capital e no estado.

Ao chegar no prédio da secretaria de Saúde, o grupo foi recebido por um outro grupo, o chamado "Escolas Abertas". O movimento, que apoia a iniciativa do governador João Doria (PSDB) de impor a volta presencial das aulas, é composto majoritariamente por pais de estudantes de escolas de elite e teria sido, segundo matéria da Carta Capital publicada na última semana, formado em um grupo de WhatsApp de pais da Saint Paul’s School, escola de elite com mensalidades entre 7 e 8 mil reais e onde estudam os filhos de Doria.

Na página do "Escolas Abertas" no Instagram, foi divulgada uma convocatória para um panelaço em frente à secretaria de Saúde para o mesmo dia e horário em que ocorreu a reunião dos professores que são contra a volta às aulas. "COMO É UM JOGO POLÍTICO e não uma decisão baseada em ciência, A PRESSÃO DE QUEM É FAVORÁVEL PRECISA SER MAIOR DO QUE DE QUEM É CONTRA!", diz a postagem.

A professora Nelice Pompeu, que é contra a reabertura das escolas e esteve na reunião, contou à Fórum que o objetivo do ato "Escolas Abertas" na ocasião foi hostilizar o grupo que é contrário ao retorno das aulas, tanto é que o panelaço terminou assim que a comissão de professores subiu para a reunião com os técnicos da secretaria.

"Uma (uma mãe de aluno) veio me peitar, quase agressão física mesmo", relatou, informando ainda que foi ofendida diretamente por uma mulher que puxava o ato com um microfone do alto de um carro de som. A professora teria sido xingada de "vagabunda" e que "não quer trabalhar".

Assim que nossa Comissão formada por mães de escola pública e profissionais de educação, foi recebida ontem , qdo...

Publicado por Profa Nelice Pompeu em Sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

"Claro que queremos voltar a trabalhar, mas nesse momento, diante do agravamento da pandemia, temos nos posicionado contra", diz Nelice.

A hostilização do "Escolas Abertas", segundo a professora, não se limitou ao panelaço em frente à secretaria. Ela conta que vem sendo intimidada, ofendida e exposta nas redes sociais por apoiadores do movimento.

Uma das pessoas que vem expondo Nelice nas redes sociais é a bolsonarista Ilona Becskeházy, ex-secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, indicada pelo ex-ministro Abraham Weintraub e exonerada em agosto do ano passado. Ela é defendida pela ala olavista do governo.

Pelo Twitter, Ilona vem acusando os professores que são contra o retorno das aulas de quererem "quebrar as escolas privadas" e expondo o perfil de Nelice.

"Chegam os "representantes" dos professores que querem quebrar as escolas privadas, aumentar o poder dos sindicatos na sociedade e ficar em casa RECEBENDO SALÁRIO sem trabalhar! Gente radica que trabalha contra o Brasil", postou a ex-secretária do MEC nesta quinta-feira (28).

"Essa aqui é a líder do grupo que foi pedir ao secretário @EdsonAparecido para as escolas NÃO VOLTAREM às aulas presenciais. Mulher agressiva que vem ameaçando e xingando as mães que LEGITIMAMENTE suplicamos pela reabertura das escolas!", escreveu em outra postagem, com um print do perfil de Nelice.

https://twitter.com/Ilonabecskehazy/status/1354782893835509760

A professora conta que apoiadores do "Escolas Abertas" têm até mesmo exposto fotos de seu pai em uma praia como forma de atacá-la. O pai de Nelice tem 70 anos e sofre de depressão.

Outras postagens de pais de alunos de colégio de elite chegam a citar o filho da professora e seu salário. "Esse pessoal não conhece a palavra limite! Estão tentando me intimidar de todas as maneiras, até meu filho e o meu pai eles já citam nos ataques. Agora estão espalhando que o meu salário é de 23 mil reais! Por isso, faço questão de compartilhar o valor que foi creditado hoje. Lembrando que tenho 2 cargos e o valor maior é de uma professora com 30 anos de carreira e que ainda está com as férias apontadas, pois mensalmente recebo esse valor ainda menor", escreveu Nelice em seu Facebook nesta sexta-feira (29), junto a uma foto de seus recebimentos.

Esse pessoal não conhece a palavra limite!
Estão tentando me intimidar de todas as maneiras, até meu filho e o meu pai ...

Publicado por Profa Nelice Pompeu em Sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Impasse da volta às aulas

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), desembargador Geraldo Francisco Pinheiro Franco, suspendeu nesta sexta-feira (29) uma liminar que proibia o retorno das aulas presenciais em áreas que se encontram nas fases vermelha ou laranja do Plano São Paulo, de combate à Covid-19. Essas são as fases mais restritivas do plano. Atualmente, todas as regiões do estado estão enquadradas em uma das duas. A decisão foi dada em recurso impetrado pelo governo do estado, chefiado por João Doria (PSDB).

liminar tinha sido obtida em ação impetrada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e outras entidades. Ela valia tanto para escolas públicas quanto para particulares.

Em nota, a Apeoesp diz que vai recorrer da decisão do presidente do TJ-SP. Para a entidade, ela não atacou pontos importantes levantados em seu pedido, “notadamente a precariedade da infraestrutura das escolas públicas estaduais e o risco de contágio de profissionais da Educação e estudantes”.