O rompimento da barragem em Brumadinho (MG), crime da Vale do Rio Doce que deixou 272 mortos e 11 desaparecidos, completa dois anos nesta segunda-feira (25). Apesar do tempo que se passou, atingidos ainda cobram reparação por parte empresa e denunciam um acordo que pretende cortar mais da metade da indenização à região.
Segundo informações do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), um dos movimentos sociais que atuam na região, o acordo em questão envolve a Vale, o governo de Minas Gerais, Defensorias, Ministérios Públicos e a Advocacia Geral da União (AGU).
Uma Ação Civil Pública movida pelo Estado contra a Vale previa que a mineradora deveria pagar R$ 54 bilhões para reparar os danos humanos e ambientais do crime em Brumadinho. Contudo, segundo informações do MAB, a Vale propôs o pagamento de apenas R$ 21 bilhões.
Esse total inclui um valor de R$ 16,45 bilhões destinados à realização de obras em Belo Horizonte - município que fica a 60 quilômetros de Brumadinho -, R$ 3 bilhões para a recuperação ambiental e R$ 2,2 bilhões já gastos em indenizações para os cerca de 8 mil atingidos.
Ainda, uma parcela da indenização seria distribuída ao Judiciário para coordenar ações no “terceiro setor”. Além disso, o movimento também denuncia a ausência de participação efetiva dos atingidos nas negociações.
"A Vale continua impune. Infelizmente, a gente vê a Justiça não realizada em Brumadinho, assim como é o caso do crime da Vale em Mariana", denuncia Joceli Andrioli, da coordenação do MAB, em entrevista à Fórum.
"No caso do Rio Paraopeba [principal rio de Brumadinho atingido pela lama], a população continua sem água potável, várias famílias já entraram com pedido e a Vale se negou a tratar uma coisa que é básica", completa.
Enquanto movimentos sociais denunciam a tentativa de corte do valor da indenização pela Vale, assim como a falta de reparação integral aos atingidos, a empresa segue registrando altos lucros ano após ano.
Segundo informações do jornal Estado de S.Paulo, a Vale reportou um lucro líquido de US$ 2,908 bilhões no terceiro trimestre de 2020, alta de 76% em relação ao mesmo período de 2019. Na comparação com o segundo trimestre do ano, o lucro foi 192% maior.
Manifestações e homenagens
No dia em que se completa dois anos do rompimento da barragem, atingidos fizeram diversas manifestações e homenagens aos mortos.
O MAB compartilhou nas redes sociais imagens de manifestantes ocupando a BR 262, em Juatuba (MG), reivindicando o direito à água e à renda.
Algumas pessoas também prestaram homenagem aos 272 mortos pela tragédia em ato simbólico no Rio Paraopeba. Os atingidos jogaram no rio 11 flores, em homenagem às pessoas que ainda não foram encontradas.