Em razão da pandemia do novo coronavírus, a montadora estadunisense Ford e o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau) firmaram um acordo coletivo em abril de 2020 que tinha como objetivo garantir a manutenção dos empregos durante o período da crise sanitária. Na ocasião, o Sindmetau conseguiu um acordo melhor que a Medida Provisória 936, do governo Bolsonaro.
Com a saída da Ford do Brasil, anunciada na segunda-feira (12), cerca de 850 pessoas devem perder o emprego somente na fábrica de Taubaté, no interior de São Paulo. Além dela, será fechada a planta de Camaçari (BA).
“A intenção inicial da Ford era implementar a Medida Provisória 936. Mas isso teria um impacto significativo na renda dos trabalhadores. Nós buscamos algo que pudesse trazer uma condição mais favorável para o trabalhador, garantindo 90% do salário líquido”, disse o coordenador do Comitê Sindical de Empresa (CSE) na Ford, Sinvaldo Cruz, em abril.
O acordo foi feito dois meses depois de uma intensa mobilização dos trabalhadores da fábrica, que culminou em um Programa de Demissão Voluntária (PDV) que previa reajustes salariais e garantia estabilidade de 2 anos (até 31 de dezembro de 2021) para os funcionários que continuassem na fábrica.
Além disso, a luta dos trabalhadores diminuiu o número de demitidos. Inicialmente seriam 350 dos 920 funcionários, entre horistas e mensalistas. O contingente reduzido caiu para 277.
A pandemia impôs novos desafios aos metalúrgicos, então nas novas tratativas foi estabelecida flexibilização da jornada de trabalho, com redução de 25% das horas trabalhadas e de 10% do salário por seis meses, além da suspensão dos contratos de trabalho nos meses de maio e junho.
Esse novo acordo também garantia estabilidade no emprego até dezembro de 2021.
A Fórum entrevistou Alessandro Silva, integrantes do Comitê Sindical de Trabalhadores na Ford (CSE-Ford), para saber como os trabalhadores ficaram sabendo da notícia e se esse fechamento já seria esperado, tendo em vista o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, em 2019.
Segundo Silva, a empresa não havia dados sinais de que poderia fechar as portas e não implementou grandes mudanças após o encerramento das atividades em SBC. "Não houve mudanças não, este ano até fizemos redução de jornada com redução de salários e diminuímos valores de PLR [Participação nos Lucros e Resultados] para que pudéssemos passar por este momento de dificuldades", disse.
"Aqui na planta de Taubaté temos por volta de 850 empregados diretos e mais algo em torno de 200 empregados terceirizados. No Brasil devem ser afetados mais de 5000 empregados diretos e com um número considerável indireto também", declarou o metalúrgico.
Questionado sobre o acordo de estabilidade, Silva garantiu que ele ainda teria validade. "Sim, gente tem um acordo de vigência de estabilidade no emprego para todos os funcionários até 31 de dezembro de 2021. Isso é fato", afirmou.
Silva ainda afirmou que os trabalhadores souberam da notícia do encerramento das fábricas de Taubaté e Camaçari (BA) apenas 1 hora antes da divulgação da nota à imprensa, em uma reunião virtual feita pela Ford com sindicalistas de São Paulo e da Bahia.
Ações do sindicato
O Sindimetau realizou uma assembleia nesta terça-feira (12) com o objetivo de lutar pela manutenção dos empregos. “Uma das principais ações, também aprovada, é a criação de uma alíquota nos produtos da Ford, caso chegue mesmo no ponto de fechar as plantas no Brasil. Queremos que o governo federal destine esta alíquota a todos os trabalhadores da Ford no país”, disse o presidente do Sindmetau, Cláudio Batista, o Claudião, ao portal do Sindimetau.