Dia da Amazônia: Bolsonaro é denunciado por crime contra a natureza e mulheres indígenas realizam "Cura da Terra"

Jair Bolsonaro anunciou corte no financiamento para a proteção da floresta e ainda voltou a ameaçar entidades que defendem o meio ambiente. Isso no momento em que a floresta arde em chamas e terras demarcadas são invadidas por exploradores inescrupulosos

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Neste sábado, 5 de setembro, é celebrado o Dia da Amazônia. É tempo de celebrar porque a floresta merece sempre ser reverenciada, mas também é dia de luta. Jair Bolsonaro acaba de anunciar um terrível corte no financiamento para a proteção da floresta e ainda voltou a ameaçar entidades que defendem o meio ambiente. Isso no momento em que a floresta arde em chamas e terras demarcadas são invadidas por exploradores inescrupulosos.

Não é apenas omissão. O presidente brasileiro tem uma verdadeira obsessão pela destruição. Já foi acusado de ecocida pela sua negligência diante da catástrofe que arrasa um dos biomas mais importantes do mundo.

Pra se ter uma ideia, em 2019, mais de mil árvores foram derrubadas por minuto, de forma ilegal, no bioma amazônico. Agora, a floresta enfrenta o maior número de queimadas dos últimos 22 anos. E como explicou à Fórum a doutora Lívia Carvalho Moura, assessora técnica no Programa Cerrado e Caatinga no Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), a floresta úmida só está em chamas porque o homem está devastando e tocando fogo.

A ex-seringueira e ex-senadora, e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, resumiu assim em tom de indignação em seu Twitter: "A doença que atinge a Amazônia são os criminosos que desmatam, botam fogo na floresta, ocupam ilegalmente a terra pública, fazem garimpo ilegal, violentam os povos indígenas e também aqueles que são coniventes com essa destruição".

Em meio a tanta destruição, o governo Bolsonaro ainda tenta de todas as formas legalizar o garimpo em território indígena. Enquanto isso não ocorre, a sua intenção serve como um encorajamento para garimpeiros invadirem terras e destruírem o que encontrarem pela frente, matando e desmatando para conseguirem extrair a riqueza da floresta.

O povo mundurucu, das Terras Indígenas Sai-Cinza e Mundurucu, no sudoeste do Pará, luta há décadas contra a invasão da garimpagem; aquelas terras foram homologadas em 1991. O agronegócio é outra ameaça constante, as cercas avançam, homens armados amedrontam os povos originários, a Amazônia vive um clima de terra sem lei. Além disso, a pandemia da Covid-19 ameaça índios isolados, mata lideranças tradicionais e pode gerar um genocídio.

Preocupados com o futuro da floresta, ambientalistas lançaram a campanha mundial "Defund Bolsonaro", onde alertam que as transnacionais investem na destruição quando compram produtos do país do presidente ecocida, e denunciam o líder brasileiro por crimes contra a natureza. A campanha causa forte repercussão nas redes, principalmente um vídeo emocionante (veja no final da matéria) em que ouvimos a voz de uma criança alertando sobre o desastre que atinge a floresta e, consequentemente, atinge as cidades.

"Quando a Amazônia queima, tudo o que você ama queima com ela", diz o garoto. O vídeo finaliza com um alerta: "Amazônia ou Bolsonaro, de que lado você está?". A campanha também propõe boicote a produtos brasileiros que contribuem com a devastação florestal.

E agora?

O desmatamento da Floresta Amazônica pode transformá-la em uma savana, com graves consequências para o clima em todo o mundo.

Especialistas afirmam que a combinação de recorde de queimadas e desmatamento apontam para um novo ponto de inflexão a partir do qual ecossistemas na Amazônia oriental, Sul e Central podem deixar entre 20% e 25% da floresta original.

"Apesar de não sabermos o ponto de inflexão exato, estimamos que a Amazônia está muito próxima de atingir esse limite irreversível. A Amazônia já tem 20% de área desmatada, equivalente a 1 milhão de quilômetros quadrados, ainda que 15% dessa área esteja em recuperação", observou o cientista climático Carlos Nobre.

A floresta é importante, também, para manter o ciclo de chuva e o ciclo das águas. Sem árvores, escasseiam as chuvas; sem chuva, os rios enfraquecem; sem água, as cidades morrem.

Dia da Mulher Indígena

Mas neste sábado (5) também é o Dia Internacional da Mulher Indígena, e as mulheres da floresta, de vários povos diferentes, se reunirão para um encontro, uma roda de conversa, para "compartilhar reflexões, críticas dores, sonhos e ações. Em tempos de pandemia, emergência climática, ecocídio e genocídio, escolhemos a esperança".

A data é celebrada desde 1983, e propõe a preservação da memória coletiva de um povo na luta pela sua sobrevivência. A floresta é feminina, a natureza é feminina e é feminina a fertilidade. As mulheres indígenas estão semeando uma corrente de amor pela floresta em um evento chamado Cura da Terra, um encontro global de mulheres indígenas onde será discutido "os efeitos das crises sociais, ambientais, econômicas e espirituais causadas por um modelo de crescimento infinito em um planeta finito. Nós mulheres indígenas, junto com nossas comunidades, curamos a terra, porém é tarefa de todos assumir a responsabilidade de defender o futuro", diz a chamada do evento no Instragram.

No dia 31 de agosto, em uma fala na Live "Luta Ancestral", a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, pontuou um dos principais enfrentamentos e desafios dos povos da floresta. "Nós precisamos retirar os 20 mil garimpeiros ilegais que estão lá no território Ianomami, os que estão lá no pará, ameaçando e perseguindo o povo Mundurucu, nós precisamos tirar os missionários evangélicos conservadores que estão ameaçando os povos que vivem em isolamento voluntário, nós precisamos, juntos, provocar essa mudança".

https://youtu.be/_j221Ci8kzQ