Por Glauco Braga, publicado originalmente na Folha Santista
“Minha mãe tem umas dez máscaras e usava luvas também para sair de casa. Não sei como ela pegou coronavírus até agora”. O desabafo é de Rebeca Azevedo da Silva, filha da agente de saúde aposentada Monica Anísio de Azevedo da Silva, de 50 anos, que está entubada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, em Guarujá, que é administrado pelo Governo do Estado.
Rebeca na última quinta-feira procurou a Reportagem do Folha Santista para relatar que sua mãe estava com os pulmões comprometidos pelo Covid-19 e que não havia mais leitos de UTI no Hospital Municipal de Cubatão, já que os dez disponíveis estavam ocupados. Ela conseguiu a internação da mãe e expôs a situação crítica na Cidade que não dispõe de vagas e tem uma lista de espera de três pessoas por dia para os cuidados intensivos.
Ela lembrou que a mãe ficou em pânico quando soube do surgimento do coronavírus, pois sabia que a doença era muito grave. A família, em momento algum, tratou o coronavírus como uma “gripezinha”. “Não, nada de gripezinha. Ela ficou muito assustada e não deixava ninguém sair de casa. Nossa família ficou muita apreensiva desde quando tivemos conhecimento da doença também”.
A filha não sabe até agora como a aposentada se contaminou, já que saía muito pouco de casa. “Nós moramos na Vila Esperança. Minha mãe saía apenas para ir visitar meu avô que morava na Vila São Jose e se prevenia para ir lá e voltava. Tem uma dez máscaras e só saía de casa com luvas e tomava banhos quando retornava . Não usava transporte público e ia de carro até lá. O meu vô faleceu no dia 21 de um tumor no pulmão, mas os testes pra Covid-19 deram negativo. Eu juro pra você que eu fiquei muito surpresa quando ela ficou doente”.
Sintomas
Rebeca revelou que a mãe começou a ter muita febre no dia 15 passado, mas que mesmo assim a levou ao hospital. Os médicos disseram que poderia ser uma tuberculose e o raio-x mostrou sintomas dessa doença. “Fizeram o teste para a tuberculose e o coronavírus e nos mandaram para casa com uma medicação. No dia 19, ela estava com uma tosse seca e bem cansada e a levei novamente ao hospital. Aí, foi quando a médica pediu a internação. No dia 20 saiu o resultado do exame positivo para o Covid-19”. No dia 22, ela foi levada para a UTI.
Como Mônica tem, além de Rebeca, outro filho de três anos, um neto de nove, marido e o genro morando na mesma casa, ela se isolou já nos primeiros sintomas. Na residência, ninguém teve ou tem nenhum sintoma da doença. “Ela ficava no quarto sozinha só eu que entrava lá para levar água e comida”. Ela disse que a mãe se aposentou depois de
sofrer um acidente de trabalho, quando fraturou a coluna. “Ela operou e ficou dois anos na cama, pois não tinha forças nas pernas. Fez muita fisioterapia para se recuperar. Minha mãe é uma guerreira sofredora”.
Mônica está na UTI e os médicos avisaram à família que ela está respondendo bem ao tratamento e que deve ficar entubada por mais dez dias. ” O díficil é ficar longe, porque não sabemos ao certo o que está acontecendo”.
Rebeca disse ainda que, neste domingo, saiu de casa depois de 15 dias, já que a família está de quarentena mesmo. “Eu não estava saindo nem para comprar pão. Tenho uma filha de nove anos e um irmão de três, são muito pequenos. Nunca iria arriscar”.
“Eu vejo no Facebook as pessoas fazendo festa e nem ligando para a doença. Olha, devemos dar mais importância à vida e aos nossos pais que estão sempre alertando as coisas para o nosso bem. Minha mãe é uma mulher de oração, sempre se preveniu e pegou. Imagina quem não faz isso? O erro das pessoas e achar que nunca vai acontecer. Essa doença está acabando com sonhos das famílias. A felicidade de muita gente está sendo enterrada com essa doença. Eu aprendi que ficar em casa com a família é melhor que morrer nesse mundo louco onde estamos vivendo”, desabafou.