"A tarefa de colocar freio no genocídio negro continua", diz Douglas Belchior sobre massacre de Paraisópolis

A tragédia completou 100 dias nesta segunda-feira (9). Para o ativista, o argumento de "legítima defesa" usado por PMs é "irresponsável e mentiroso"

Foto: Divulgação/Reprodução Facebook
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O massacre protagonizado pela Polícia Militar do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na favela de Paraisópolis, deixando nove jovens mortos e dezenas de feridos, completou 100 dias nesta segunda-feira (9). Ativistas e líderes comunitários ainda cobram justiça pela tragédia, enquanto a mais recente declaração da Corregedoria da PM aponta que agentes agiram em "legítima defesa".

Para o professor de História e ativista Douglas Belchior, a principal tarefa dos movimentos populares é de persistir na luta contra o genocídio da população negra. Além disso, para ele, o uso do argumento de "legítima defesa" pela Corregedoria não justifica os assassinatos.

"Tem sido recorrente a utilização do conceito da legítima defesa para justificar o excludente de licitude para as ações policiais. As imagens falam por si. A atuação da polícia foi desmedida, irresponsável, senão premedidata. Aquela ação de Paraisópolis não tem nada de legítima defesa, a Corregedoria nesse caso está sendo irresponsável", disse, em entrevista à Fórum.

"A polícia é grande responsável por aquele tumulto e por aquelas mortes. Aquilo foi feito de maneira deliberada e planejada", continuou.

No mesmo dia em que se completou 100 dias do massacre, Doria decidiu trocar o comando-geral da corporação por conta do atual mal-estar entre agentes, o que poderia levar a um motim no estado. Contudo, Douglas diz que o governador tucano tem muitas similaridades ideológicas com a corporação, o que torna o motim algo improvável.

"Há setores das forças armadas e das forças policiais em todos os estados que são adeptas às práticas milicianas e fascistas, muito estimuladas pelo clima político, pelos governos dos estados e pelo presidente da República. Com o governo fascista de Doria, eles encontram muito mais similaridades do que contraposições, diferente do que se estabeleceu no Ceará, onde se tem um governo opositor a governos fascistas", comentou.

"A sensação que fica é de revolta. Nossa missão é transformar essa sensação em ações concretas de denúncia, de resistência, de fortalecimento das comunidades. Infelizmente, os danos são irreperáveis. A tarefa de colocar um freio no genocídio continua", finaliza.

Denúncia na OEA

A Coalizão Negra por Direitos, grupo formado por mais de 60 organizações antirracistas, denunciou na última sexta-feira (6) na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), instituição vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), a violência policial do governo de Jair Bolsonaro, assim como dos governos estaduais, que mata constantemente jovens negros de periferia - como foi o caso do massacre em Paraisópolis.

As denúncias abordaram especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, estados governados por Doria e Wilson Witzel (PSC), respectivamente. A audiência sobre o tema aconteceu na cidade de Porto Príncipe, no Haiti.