Um dos produtos mais disputados no início da pandemia do coronavírus - que virou alvo de disputas nos supermercados e até invasão de estadunidenses no México -, o papel higiênico sofre com a alta dos insumos, de até 40%, que tem deixado assustado os produtores.
"Muitas matérias-primas, a começar pela celulose, são indexadas ao dólar, e a nossa moeda foi uma das que mais se desvalorizou durante esse ano, acima dos 20%. Só isso já é um impacto enorme", diz João Carlos Basilio, presidente-executivo da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), em reportagem da BBC Brasil.
No entanto, o papel maculatura, usado para fazer os tubetes marrons onde são enrolados produtos como papel higiênico e papel toalha, tiveram alta de 40%, segundo Pedro Vilas Boas, diretor da Anguti Estatística.
"Isso aconteceu por falta de material. Essas aparas vêm das caixas de papelão ondulado dos produtos vendidos em lojas e shopping centers. Quando eles ficaram fechados, esse material deixou de ser recolhido, gerando escassez no mercado", afirmou.
Repasse e desabastecimento
A principal reclamação dos fabricantes é que a rede varejista, como os supermercados, não aceitam reajustes no preço do produto, que teve alta de 3,24% nos últimos 11 meses.
A Abihpec estima que as aparas de papel acumulam alta entre 26% e 31% entre janeiro e novembro. Já o GLP teve aumento de 3,5% somente em outubro, enquanto materiais de embalagens, como as caixas de papelão, registrando alta de cerca de 10%; filme plástico liso, alta de 11,5%; filme impresso, alta de 9%; e a maculatura, alta de 7,5%.
"Os preços que estão sendo praticados hoje, vendendo para os supermercados, para muitas fábricas não chegam nem a repor os estoques pelos custos atuais", afirma Basilio.
Apesar da defasagem, o presidente da Abihpec diz que o risco de desabastecimento é "zero".
"O que estamos alertando é que, nessas condições, há a possibilidade de que pequenas indústrias que fabricam papel higiênico não tenham fôlego para suportar essa pressão e possam ser compradas por grandes empresas. Pode haver uma maior concentração de marcas", afirma.