Colégio do Rio de Janeiro adota linguagem inclusiva e gera revolta entre pais conservadores

"Vamos parar de chamar esses porcos de progressistas", escreveu um pai sobre a decisão do colégio. Caso foi levado à Alerj por deputados do PSL

Liceu Franco-Brasileiro (Reprodução)
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O colégio particular Liceu Franco-Brasileiro, localizado no bairro Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro, encaminhou um comunicado aos responsáveis pelos estudantes na quarta-feira (11) anunciando a adoção de "estratégias gramaticais de neutralização de gênero na instituição". O anúncio gerou revolta entre pais conservadores.

A neutralização do gênero gramatical tem o objetivo de enfrentar o sexismo na linguagem e garantir a inclusão de pessoas que não se identificam com o sistema binário de gênero. Um exemplo da neutralização de gênero na linguagem é a substituição de "queridos alunos", no masculino, por "querides alunes".

O comunicado do colégio diz que professores e estudantes poderão manifestar "livremente sua identidade de gênero contribuindo para uma representação mais digna e igualitária dos diferentes gêneros".

Pais conservadores repudiaram a decisão. Mensagens trocadas em um grupo de WhatsApp mostram os responsáveis mobilizando um pedido de demissão da diretora pedagógica do Liceu.

"Temos que pedir a demissão da diretora pedagógica. Ela vai continuar com essas ideias. Não vai parar, tem ideia fixa", escreveu um pai. "Alguém tem que parar essa mulher", completou outro.

Outros responsáveis foram ainda mais agressivos em suas reações à decisão do colégio. "Vamos parar de chamar esses porcos de progressistas" e "colégio militar não tem essas frescuras", foram algumas das mensagens enviadas no grupo.

Outro pai também manifestou preocupação de que seu filho sofra "agressões verbais" na rua por estudar em um colégio "de esquerda".

Com a repercussão, dois deputados estaduais do PSL, Marcio Gualberto e Anderson Moraes, resolveram questionar a decisão da escola em protocolo na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Segundo eles, será necessário estabelecer “medidas protetivas ao direito dos estudantes do Estado do Rio de Janeiro ao aprendizado da Língua Portuguesa, de acordo com as normas cultas e orientações legais de ensino”. Nenhum dos dois têm filhos no Liceu.

Nesta quinta-feira (12), o colégio divulgou um novo comunicado afirmando que o uso da linguagem inclusiva não exclui o ensino da "norma culta do português" nas salas de aula. O Liceu afirma ainda que vai manter tal padrão nas comunicações oficiais com alunos e pais.

“O colégio afirmou o respeito à autonomia de professores e alunos no uso da neutralização de gênero gramatical na escola. Em nenhum momento, informou que passaria a adotar essa prática em avaliações e em sua comunicação oficial”, diz o novo comunicado.

“Espaço de formação e de múltiplos diálogos, o colégio adota a discussão sobre questões expostas pela sociedade, que não podem ficar só extramuros”, completou.