O ginasta Ângelo Assumpção, demitido do Clube Pinheiros no fim de 2019 após denunciar casos de racismo por parte de treinadores e diretores, ainda sente as consequências do episódio em sua carreira. O atleta está desempregado há quase um ano e diz que recebeu pouco apoio de sua modalidade.
“Não recebi muito apoio do pessoal da minha modalidade, então me apoiei na família”, conta, em entrevista à Veja. "O que quero mesmo é poder trabalhar porque muitas portas se fecharam para mim”, continua. Para pagar as contas e se alimentar, ele conta com a ajuda de uma campanha online organizada por amigos e familiares que conseguiu arrecadar R$ 40 mil.
Angelo foi demitido do Pinheiros após procurar a cúpula do clube em três oportunidades e denunciar abusos psicológicos que ocorriam no local. Uma das ocorrências, segundo ele, foram piadas racistas e até a alegação de que as tranças que usava no cabelo estariam atrapalhando seu rendimento no esporte.
Depois da última denúncia, ele recebeu punição de 30 dias de afastamento por suposta indisciplina. Em seguida, foi demitido do clube a um mês do fim de seu contrato.
“Tentei dialogar dentro do ginásio e fui recebido com uma suspensão e, um mês depois, com a rescisão de contrato. É difícil os atletas negros quererem se manifestar se são sempre silenciados e não têm apoio dos que têm poder. A empatia não pode ser seletiva", desabafa.
O ginasta já havia passado por ataques racistas em outra ocasião, o que também prejudicou sua carreira. Em maio de 2015, o ginasta Arthur Nory publicou um vídeo em que ele e outros dois colegas brancos faziam comentários racistas contra Angelo. “O saco do supermercado é branco, o de lixo é preto. Por quê?”, debochava Nory.
Depois do episódio, Angelo não conseguiu se firmar como titular da seleção brasileira, enquanto Nory cumpriu apenas 30 dias de suspensão pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e disputou a Olimpíada do Rio no ano seguinte.