O engenheiro Ricardo Sfeir, 27, diz que cresceu sem nunca ter visto um homem gordo ser escolhido para estrelar campanhas de marcas de cueca, tais como as da Calvin Klein com Justin Bieber, Shawn Mendes e com o jogador de futebol Freddie Ljungberg - todos homens com corpos padrão. Na quarentena, no entanto, ele passou a cultivar o hobby de recriar as fotos dessas campanhas - mas, dessa vez, com a proposta de promover um corpo real.
As criações de Sfeir fizeram tanto sucesso que o engenheiro foi convidado para um ensaio fotográfico oficial da marca, realizado no mês passado. Em entrevista à Fórum, ele conta que uma das principais motivações por trás de suas criações foi a campanha da própria marca com Jari Jones, modelo negra, trans e plus size. Uma foto da modelo foi utilizada para estampar um outdoor enorme da Calvin Klein em Nova York.
"Eu comecei a me sentir confiante com quem eu era e também fui me sentindo mais confiante com o meu corpo. Quando vi a Jari Jones, eu me vi naquilo. Na minha vida, eu nunca tinha visto um homem gordo sendo representado dessa forma", conta o engenheiro.
Para Ricardo, nunca ter visto imagens de corpos masculinos gordos em campanhas publicitárias afetou a forma como ele se relaciona com a própria imagem. "Você crescer sem ver qualquer tipo de diversidade, vendo que aquele corpo é sempre o corpo super malhado, só mostra que o corpo que a gente tem hoje não é o corpo perfeito. E não existem corpos perfeitos, existem corpos reais. Quando vi que meu corpo merecia ser visto e celebrando, peguei uma das maiores inseguranças que eu tinha e escolhi o tipo de roupa que mais poderia expor o meu corpo", relata.
O engenheiro, que hoje também cultiva uma carreira de influenciador social, conta que ficou muito feliz com o convite da marca. Ele confessa, no entanto, que a repercussão de suas fotos fez com que ele temesse algum tipo de processo.
"Foi tudo completamente inesperado. Cheguei a ficar com medo de ser processado, não sabia se podia fazer isso ou não. Meu medo era de cutucar um vespeiro. Por mais que eu estivesse aceitando o corpo, são 'outros 500' você postar as fotos, também não sabia como seria essa reação no meu trabalho. Hoje, eu tenho muito mais armadura para lidar com crítica e gordofobia. Muita gente me agradeceu pelas fotos", conta.
Para ele, o debate em relação às inseguranças masculinas ainda é muito incipiente. Ricardo afirma que, apesar de homens não sentirem a mesma pressão estética que as mulheres, falar sobre o tema ainda é um tabu entre a população masculina. "Se importar com imagem ainda é algo muito ligado a insegurança. É como se você não pudesse se importar com a forma como você é. Como se falar de sentimento e insegurança fosse uma fraqueza", afirma.
Confira outras fotos de Ricardo: