Aluna denuncia racismo de coordenador, mas Unip demite professores que testemunharam

"Gosto muito de vocês, negros", disse o coordenador Enzo Fiorelli a uma aluna em sala de aula. Professores acusam universidade de perseguição

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A Universidade Paulista (Unip) demitiu dois professores do curso de Relações Internacionais nos campi Pinheiros e Paraíso/Vergueiro em agosto após ambos testemunharam um caso de racismo por parte do coordenador do curso contra uma aluna. O caso aconteceu em outubro de 2019.

De acordo com reportagem do Intercept, um dos professores, Fabio Maldonado, ministrava a aula de “Relações Internacionais da América Latina” quando o coordenador, Enzo Fiorelli Vasques, entrou na sala junto com Luiz Fernando Mocelin Sperancete, também professor e coordenador-auxiliar do curso.

Após cumprimentar os estudantes, Vasques teria se dirigido a uma estudante negra na primeira fileira e ironizado o cabelo dela: “Gosto muito de vocês, negros, inclusive tenho amigos africanos com esse mesmo ‘tipo’ de cabelo”, disse, segundo o relato de estudantes e professores.

A estudante conta à reportagem que se sentiu constrangida. “[Ele estava] insinuando que esse ‘tipo’ fazia parte de uma cultura exógena ao povo brasileiro. Ou seja, não estava se referindo só ao meu cabelo, mas à minha raça”, afirmou.

Em 13 de agosto de 2020, a aluna decidiu encaminhar uma notificação extrajudicial por e-mail à Ouvidoria, à Reitoria e ao departamento de Recursos Humanos da Unip. No documento, Sperancete e Maldonado são citados como testemunhas.

“Não esperava esse tipo de atitude vindo do coordenador-geral de um curso que tem no nome a palavra ‘relações’, que abrange uma enorme diversidade étnica e cultural no seu corpo discente, além de ter uma ampla carga de disciplinas heterogêneas. Ou seja, a diversidade é o foco deste curso, não o contrário”, diz um trecho da notificação.

Cerca de sete dias depois da notificação, a estudante recebeu um telegrama da universidade, que informava a instalação da Comissão Sindicante 11/2020 para averiguar a denúncia. Sperancete foi demitido em 21 de agosto, oito dias após a denúncia da estudante. Maldonado foi desligado em 1º de setembro, seis dias após a primeira oitiva da sindicância.

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